A Economia no Século 21Rio 2016 – A Economia no Século 21 http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br O olhar de um pesquisador sobre a economia contemporânea Tue, 30 Aug 2016 15:06:40 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 A renda dos futebolistas, das futebolistas e dos atletas em geral http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/08/15/a-renda-dos-futebolistas-das-futebolistas-e-dos-atletas-em-geral/ http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/08/15/a-renda-dos-futebolistas-das-futebolistas-e-dos-atletas-em-geral/#respond Mon, 15 Aug 2016 12:08:03 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15246248.jpeg http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/?p=1043 Por conta dos jogos olímpicos, muito tem sido falado a respeito da discrepância entre a renda dos jogadores de futebol e a das jogadoras de futebol.

A primeira parte para a explicação sobre essa discrepância de renda é óbvia.

Em maio de 2016, o Flamengo se sagrou campeão brasileiro de futebol. Feminino. O primeiro jogo da final, contra o Rio Preto, foi em casa. A entrada era gratuita, mas o público no estádio era muito pequeno.

Claro deve estar, há muito menos demanda (de homens e de mulheres) por jogos de futebol feminino que por jogos de futebol masculino. Essa menor demanda se traduz em menos renda de ingressos e da televisão, menos venda de camisetas, menos dinheiro de patrocinadores.

De modo geral, a renda dos atletas depende muito dessa demanda de torcedores. Isso vale não só para o futebol mas também para o tênis, vôlei, basquete e todos os outros esportes que podem sobreviver sem financiamento estatal.

A questão interessante, portanto, não é sobre o mercado de trabalho, mas sobre a demanda dos torcedores. Por que há mais demanda por futebol masculino que por futebol feminino, ou por campeonatos de judô e arco e flecha?

Há dois tipos de explicação:

1. Os esportes são mais demandados por serem mais interessantes. A grande maioria das pessoas, dentre as opções (a) assistir futebol, (b) assistir o campeonato de arco e flecha e (c) fazer outra coisa, escolhe (a) ou (c) porque assistir e torcer no futebol é muito mais divertido que no arco e flecha.

Simples, e deve explicar boa parte da diferença na demanda pelos diferentes esportes. Mas não explica tudo.

2. Os esportes mais demandados hoje são os que eram mais demandados ontem. Se muitas pessoas estão acostumadas a torcer por seus times de futebol masculino, isso gera uma demanda grande por futebol masculino hoje que persiste por muito tempo.

Parte importante da explicação por essa persistência nos gostos é que torcer é uma parte fundamental do prazer que as pessoas têm ao acompanhar competições esportivas. Muito menos gente assistiria a luta da judoca de quimono azul contra a de quimono branco se uma delas não tivesse BRA escrito nas costas e isso não fosse parte de uma grande competição, a Olimpíada.

A paixão por um time (ou pela equipe de um país) não se desenvolve do dia para a noite. Muito pouca gente vai deixar de torcer pelo Corinthians e passar a torcer para a Portuguesa porque esta está com um time melhor em um determinado ano.

Da mesma maneira, é difícil trocar a paixão pelo time de futebol do Corinthians pela paixão por um time de voleibol, futebol feminino ou por um astro do judô, do tênis ou do arco e flecha. Esse é o “efeito torcida”.

Como muita gente segue o campeonato de futebol e torce para algum time, a TV e os jornais dão mais destaque ao futebol masculino, os amigos falam mais de futebol que de outros esportes. Com tanto dinheiro envolvido, o futebol acaba atraindo uma grande quantidade de ótimos atletas que treinam todo dia, em ótimas condições. Tudo isso estimula ainda mais o gosto por esse esporte.

Esse é o “efeito coordenação”: se o basquete fosse o esporte mais popular no país e recebesse mais atenção da televisão e dos nossos amigos, cada um de nós teria mais estímulos para acompanhar o campeonato de basquete.

Por causa do efeito torcida e do efeito coordenação, o consumo por competições esportivas é muito diferente do consumo de outros bens. Você pode gostar do telefone Motorola, mas é relativamente fácil trocá-lo por um Samsung se o modelo novo deste lhe parecer melhor.

Sabendo disso, times de futebol investem em novos mercados, onde a paixão pelo futebol ainda não existe, para ampliar sua clientela. É mais fácil para o Manchester United conseguir novos torcedores na Ásia que na Inglaterra, onde quase todo mundo já tem um time.

É por isso, aliás, que sempre há jogos do campeonato inglês de futebol ao meio dia do horário local. Interessa aos times ingleses mostrar jogos ao vivo na Ásia às 9 da noite. E, de fato, na Ásia, o campeonato inglês é muito popular.

Em suma, há grande persistência na demanda por esportes por causa do efeito torcida e do efeito coordenação.

Isso não significa que nada mude. O voleibol é muito mais popular hoje no Brasil do que nos anos 1970. O fenômeno Guga aumentou a demanda pelo tênis. Mas significa que as mudanças demoram.

Então, o que gera a demanda por cada esporte?

É razoável afirmar que o futebol é o esporte mais popular no mundo pelo primeiro motivo: para a maioria, é muito divertido assistir (e jogar). Judô e arco e flecha são, para a maioria, menos divertidos.

O sumô é muito popular no Japão. Os ingleses gostam de cricket. Meu chute é que a persistência (o segundo motivo) explica parte significativa da popularidade desses esportes. Se isso for verdade, com o tempo, bem aos poucos, a demanda por esses esportes cairá.

O futebol feminino deve ficar mais popular com o tempo. Quão mais popular, eu não sei, mas de qualquer modo, esse processo vai demorar.

Assim, em 2020, assistiremos novamente ao campeonato olímpico de futebol feminino e, mais uma vez, leremos sobre a discrepância na renda dos diferentes atletas.

A olimpíada gera um efeito torcida pelo Brasil e um efeito coordenação que direciona nossa atenção aos mais variados esportes olímpicos. Só que isso dura 15 dias. O futebol masculino tem esses dois efeitos a seu favor o tempo todo.

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Medalhas e o tamanho da economia http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/07/29/medalhas-e-o-tamanho-da-economia/ http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/07/29/medalhas-e-o-tamanho-da-economia/#respond Fri, 29 Jul 2016 12:57:25 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15246248.jpeg http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/?p=989 Qual a variável que mais ajuda a prever o desempenho de cada país nos jogos olímpicos?

População certamente ajuda. Um país muito populoso tem mais chance de ter alguém com habilidades excepcionais para nadar, correr ou atirar. De fato, os dados mostram uma associação positiva entre a população e a quantidade de medalhas: os países mais populosos ganham, em média, mais medalhas que os outros.

Espera-se, porém, que o nível de renda e riqueza de um país ajude a explicar o desempenho nas olimpíadas. Afinal, países mais ricos terão melhor infra estrutura para treinamento e desenvolvimento das habilidades esportivas, por exemplo.

O que dizem os dados?

O gráfico abaixo mostra o PIB de cada país no eixo horizontal (em dólares) e um índice de medalhas no eixo vertical, que eu calculei atribuindo 4 pontos para cada medalhas de ouro, 2 pontos para cada medalha de prata e 1 ponto para cada medalha de bronze. (O gráfico está em escala logarítmica para facilitar a visualização).

medalhas

A associação entre o PIB e o índice de medalhas é muito forte.

As duas maiores economias, Estados Unidos e China, encabeçam a lista de acordo com o índice de medalhas. O Brasil é o ponto verde e grande no gráfico. O índice de medalhas brasileiro está um pouco abaixo do que esperaríamos olhando apenas para o PIB.

Jamaica e Coreia do Norte são exemplos de países com mais medalhas que esperaríamos olhando apenas para o PIB. Índia e Indonésia são exemplos com menos medalhas.

O coeficiente de correlação mede quão associadas são duas variáveis. Se esse coeficiente fosse 100%, todos os pontos no gráfico estariam sobre uma linha reta. Se fosse 0%, as variáveis não teriam relação nenhuma.

O coeficiente de correlação entre o PIB e esse índice de medalhas é superior a 80% (no caso de população e medalhas, é cerca de 45%). 80% é um coeficiente de correlação muito alto.

O PIB indica quanto é produzido em um país e, portanto, a renda gerada em um país. Quem diria, o PIB também dá uma boa ideia sobre o desempenho olímpico de um país.

Dados:

– O dado de PIB nominal é de 2014, em dólares, sem ajustar pela paridade do poder de compra.

– Para o índice de medalhas, usei o quadro de medalhas de 2012 (obrigado por perguntar, Eduardo).

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