A Economia no Século 21heterodoxia – A Economia no Século 21 http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br O olhar de um pesquisador sobre a economia contemporânea Tue, 30 Aug 2016 15:06:40 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Nelson Barbosa será melhor do que se espera http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2015/12/21/nelson-barbosa-sera-melhor-do-que-se-espera/ http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2015/12/21/nelson-barbosa-sera-melhor-do-que-se-espera/#respond Mon, 21 Dec 2015 04:00:19 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15246248.jpeg http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/?p=375 Era quarta-feira, 19/11/2014. Kaushik Basu, economista chefe do Banco Mundial, estava em São Paulo por conta de uma conferência acadêmica e aproveitava a ocasião para jantar com um grupo de economistas brasileiros da academia e do mercado financeiro.

Naturalmente, Kaushik Basu estava interessado na opinião dos economistas sobre o Brasil.

Em grupos como esse, era praticamente unânime a opinião que o primeiro mandato de Dilma Rousseff havia sido lastimável e que 2015 seria um ano muito difícil para a economia brasileira.

Por isso, um dos economistas presentes no jantar causava enorme surpresa. Falando animadamente, ele emitia opiniões razoavelmente positivas sobre a economia brasileira e não era muito crítico à presidente recém reeleita.

Parecia muito estranho.

Dois dias depois, o mistério se resolvia. Na sexta-feira, a Folha anunciava que esse economista, Joaquim Levy, assumiria o Ministério da Fazenda.

Já no jantar de quarta-feira, Joaquim Levy tentava fazer parte de um todo onde ele não cabia. Ele continuaria tentando por mais de um ano, sem muito sucesso. A situação continuaria parecendo estranha.

No fim de semana do anúncio, eu encontraria, por acaso, num prosaico sushi de shopping center, o outro ministro indicado para a área econômica, que almoçava sem ser notado. Desejei sorte a Nelson Barbosa e fui.

É improvável que algo assim prosaico tenha tido espaço nesse fim de semana de Nelson Barbosa, o homem sob todos os holofotes.

A maior parte dos petistas parece comemorar a guinada na política econômica.

A grande maioria dos analistas que leio espera menos austeridade fiscal e uma gestão ruim no ministério, com a ressurreição das políticas malfadadas do primeiro mandato de Dilma Rousseff.

Eu não concordo. Se tanta gente pensa assim, eu devo estar enganado, mas não entendo.

No momento, me parece que Nelson Barbosa tem até mais chance que Joaquim Levy de promover algum ajuste e colocar o país em um rumo um pouco melhor.

Não que eu aprecie as ideias econômicas de Nelson Barbosa.

Nelson Barbosa é um heterodoxo, ou seja, alguém que estudou economia lendo pesquisa de muito pouca relevância na academia internacional e que acha que isso faz sentido. Não tenho nada positivo a falar sobre sua formação (explico aqui o que significa ortodoxo em economia).

São frutos dessa visão heterodoxa as fracassadas ideias econômicas do primeiro mandato de Dilma Rousseff, como a “Nova Matriz Econômica”, a enorme expansão do BNDES e a lei do conteúdo local.

Entretanto, Nelson Barbosa é uma pessoa inteligente, capaz de aprender com os erros do passado. Dentre o grupo de economistas heterodoxos, ele deve estar entre os melhores. Comparado com o Mantega, Nelson é um enorme avanço.

OK, mas por que ele pode ser melhor que o Joaquim Levy?

Porque Joaquim Levy era o estranho no ninho, a parte que não cabia no todo, por mais que ele se esforçasse para parecer o contrário. Isso gerava dois problemas: (1) era muito difícil conseguir apoio para as medidas; e (2) os eleitores não aprendiam.

Com Levy no ministério, entidades ligadas ao PT protestavam contra a política econômica. Os economistas heterodoxos atacavam sua política neoliberal, o culpavam pela crise. Para piorar, o Ministro do Planejamento queria seu cargo.

Agora, com Nelson Barbosa na Fazenda, o PT não pode botar a culpa no “neoliberal infiltrado”. Economistas heterodoxos que antes se opunham às propostas de ajuste fiscal agora serão menos críticos a propostas muito parecidas.

Os eleitores, por sua vez, têm mais uma chance de aprender. Afinal, se o Nelson Barbosa quer o ajuste fiscal, é porque isso deve ser mesmo bom para o país (o efeito Nixon-vai-a-China, que eu expliquei aqui).

E me parece claro que Nelson Barbosa vai fazer o possível para ajustar as contas.

Ele entende que a recuperação econômica depende do setor privado investir e que, para isso, é preciso recuperar a confiança dos investidores, reduzir a incerteza. Ele sabe que isso requer ajustes nas contas do governo e uma mudança na trajetória de gastos públicos.

De acordo com a visão geral pessimista (e com a visão otimista dos petistas), Nelson Barbosa acha que o ajuste fiscal não é necessário, que a crise é fruto do ajuste. Isso é implausível.

Em suma, a vantagem nessa troca é que Nelson Barbosa deve ter mais facilidade para aprovar as medidas de ajuste. A desvantagem vem das diferenças entre as visões para a economia de Nelson Barbosa e Joaquim Levy.

Para o momento atual, a desvantagem não é muito importante.

Afinal, Joaquim Levy não estava conseguindo aprovar muita coisa. Qual a política econômica desse governo? Quaisquer que fossem os ideais de Levy, o fato é que muito pouco estava dentro do limite do possível para ele.

Além disso, no momento, interessa menos o tipo de economia que cada um quer construir. É hora de apagar o incêndio, ajustar as contas.

Então, o que mais importa é que Nelson Barbosa tem uma chance um pouco maior de conseguir aprovar algumas reformas e fazer algum ajuste.

É improvável que você tenha mais desprezo que eu pela chamada “heterodoxia econômica”. E eu gosto do Joaquim Levy. Mas respeito o Nelson Barbosa e acho que essa mudança no ministério pode contribuir para tirar o Brasil do buraco.

Referências:

– Como exemplos, essas matérias na Folha e na Economist vêem com preocupação a mudança de ministros.

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Economia não é estudo de escrituras antigas http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2015/10/25/economia-nao-e-estudo-de-escrituras/ http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2015/10/25/economia-nao-e-estudo-de-escrituras/#respond Sun, 25 Oct 2015 20:24:08 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15246248.jpeg http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/?p=209 No momento em que se discute o ensino médio e a prova do ENEM de ciências humanas, aproveito para falar sobre uma outra questão acerca do ensino superior de Economia em algumas universidades.

Pergunte a um físico ou a uma engenheira se eles já leram o Philosophiæ Naturalis Principia Mathematica. Se eles entenderem a pergunta, a resposta será negativa. É provável, porém, que eles nem saibam que esse é o nome da obra monumental de Isaac Newton sobre a física mecânica.

Esse desconhecimento jamais será motivo para duvidar da capacidade do físico ou da engenheira. Afinal, eles aprenderam física estudando outros livros, que explicavam de maneira mais clara as leis de Newton. O texto original interessa aos estudiosos de história da ciência, mas para quem quer aprender física, o que Newton estava pensando quando escreveu sua obra é absolutamente irrelevante.

Isso vale para todas as áreas do conhecimento humano. Grandes descobertas são seguidas por novos trabalhos e por maneiras mais simples de explicar o que estava na obra inicial. Com o passar do tempo, o conhecimento acumulado é traduzido de maneira mais clara e completa e, a partir de um certo ponto, não vale mais a pena consultar a obra original.

Por exemplo, ao traduzir as leis do eletro-magnetismo em equações, James Maxwell não tornou a contribuição de Michael Faraday menos valiosa, mas tornou menos importante ler os originais de Faraday. Quem pesquisa sobre a Teoria da Evolução tem como ferramentas as equações diferenciais que caracterizam o processo evolutivo, mas isso não desmerece o trabalho de Charles Darwin. E todos nós estudamos o que Newton descobriu, sem ler o que ele mesmo escreveu.

Em economia, não é diferente. Os pesquisadores mais renomados dos melhores departamentos de economia do mundo não aprenderam economia lendo as obras originais de Adam Smith ou Keynes. Uma minoria deve ter lido esses livros (ou parte deles), mas por curiosidade.

Entretanto, em muitos cursos no Brasil, o estudo da Economia parece uma exegese de escrituras antigas.

John Maynard Keynes foi um economista brilhante. Foi o editor de um dos principais periódicos da época, o Economic Journal, por mais de 30 anos. Em 1936, publicou a Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, um livro que teve enorme impacto na maneira como pensamos a Economia. O entendimento que temos hoje sobre flutuações econômicas deve muito a essa contribuição de Keynes.

Como seria de se esperar, ao livro original, seguiram-se muitos outros trabalhos, alguns apontando falhas na teoria, outros confirmando algumas de suas predições. Muito se aprendeu desde então e maneiras muito mais claras de expor as ideias centrais de Keynes foram surgindo.

Contudo, em muitas escolas de Economia no Brasil, despende-se um tempo enorme lendo a Teoria Geral de Keynes e várias outras obras clássicas, buscando entender o que os autores de fato disseram (ou quiseram dizer), como se essa fosse uma maneira razoável de aprender Economia.

Curiosamente, quem acredita que Economia deve ser ensinada assim se proclama “heterodoxo” (isso não quer dizer que todos os heterodoxos acreditem nisso).

Em um exemplo particularmente relevante para este blog, em seu livro de 1936, Keynes partia da hipótese que os salários nominais demoravam a se ajustar. Uma das implicações de sua teoria era a seguinte: quando a economia vai bem, os salários em termos reais (ou seja, considerando-se a inflação) são mais baixos.

Já em 1938, outros trabalhos apontavam que essa implicação não estava correta. Quando a economia vai bem, os salários reais (descontando-se a inflação) são, em geral, um pouco maiores.

Em 1939, Keynes respondeu às críticas dizendo que a hipótese de salários rígidos havia sido feita para simplificar a exposição, e que outras hipóteses poderiam mudar essa implicação de sua teoria sem mudar os resultados principais. A implicação de salários rígidos não era fundamental.

Com o tempo, foram se desenvolvendo outras formulações alternativas que geravam resultados semelhantes aos da teoria original de Keynes. A maior parte desses modelos tinha (e tem) rigidez de preços ou salários (ou ambos). Na profissão, esses modelos passaram a ser chamados de “keynesianos”, por refletirem os principais insights de Keynes (não necessariamente da maneira original).

Há poucas semanas, escrevi um post sobre o que de fato significa “ortodoxo” em Economia. No final, eu dizia que “parte fundamental do pensamento keynesiano é que os preços e salários demoram a se ajustar”. Pelo que me contam, choveram nas redes sociais críticas por conta dessa frase, pois afinal, eu não havia lido (ou entendido) a Teoria Geral.

Aos especializados na exegese da Teoria Geral e estudantes, explico:

1. Não é preciso ler a Teoria Geral para saber que Keynes tinha em mente rigidez de salários, não de preços. Vários livros texto explicam isso (e mais), incluindo o do David Romer, que eu uso há anos nos meus cursos de Macroeconomia.

2. A comunidade acadêmica atribui a Keynes as ideias fundamentais que nos levaram a incorporar rigidez de preços e salários nos modelos macroeconômicos. Assim, hoje, chamamos esses modelos de “keynesianos”, mesmo que a formulação seja diferente da original.

3. O que Keynes de fato estava pensando em 1936 e em 1939 é absolutamente irrelevante para o nosso entendimento de Economia. Ler a Teoria Geral é uma ótima maneira de aprender sobre a Teoria Geral, mas não é uma boa maneira de aprender Macroeconomia.

A pesquisa em Economia tem avançado muito nas últimas décadas. É uma pena que tantos economistas se formem nesse país achando que aprende-se Economia decifrando obras de sábios escritas há 80 anos. E é sintomático que empregadores que querem contratar quem entende Economia dêem muito menos valor a esse tipo de formação.

Referência:

– Mais sobre a discussão acerca de salários rígidos em Keynes, a implicação empírica que contradiz os dados e a resposta de Keynes em 1939 pode ser encontrado no livro de David Romer, “Advanced Macroeconomics”.

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O que significa ortodoxo em economia? http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2015/10/01/o-que-significa-ortodoxo-em-economia/ http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2015/10/01/o-que-significa-ortodoxo-em-economia/#respond Thu, 01 Oct 2015 16:33:09 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15246248.jpeg http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/?p=153 Eu passei a ser considerado “ortodoxo” quando voltei ao Brasil, em 2010. Nos 10 anos que englobam o doutorado em Yale e o meu trabalho como professor na London School of Economics, eu nunca encontrava essa classificação. Não porque minhas ideias tenham subitamente se modificado quando voltei ao Brasil. E não porque “ortodoxos” e “heterodoxos” convivam em paz e harmonia fora do Brasil, ou algo assim.

O significado do rótulo “ortodoxo” no meio acadêmico brasileiro (que acaba, por vezes, transbordando para a discussão dos jornais) é muito diferente do que pensa o não-economista. Vou explicar.

Assim como atacantes no futebol vivem de marcar gols, pesquisadores vivem de publicar seus trabalhos em periódicos. Contudo, o número de gols não é a única coisa que importa. Por exemplo, ser artilheiro da terceira divisão do campeonato paulista é muito diferente de ser artilheiro da Champions League européia. Anderson Cavalo deve ser um excelente jogador, mas indiscutivelmente, Lionel Messi é melhor.

Da mesma maneira, o número de artigos que um pesquisador publica é um indicador muito imperfeito de sua contribuição. Há periódicos que têm grande impacto sobre a profissão e outros que são muito pouco lidos. É muito difícil publicar nos periódicos de maior impacto.

Para avaliar a produção de um pesquisador e, portanto, de um departamento de economia, é preciso classificar os periódicos. Como fazer isso? Há maneiras objetivas, baseadas em medidas de impacto como o número de citações. Muitos artigos são escritos a esse respeito, propondo maneiras de classificar os periódicos.

Contudo, a classificação que avalia a produção das universidades brasileiras (a da CAPES) é feita de maneira mais subjetiva. Basicamente, um grupo de acadêmicos das diversas universidades se reúne para brigar produzir uma classificação. Na analogia, é como se os técnicos de futebol conversassem para decidir quais são os principais campeonatos do mundo.

Como essa classificação difere das que saem por critérios mais objetivos? Na classificação da CAPES para economia, os periódicos de nível mais alto (A1) estão na tabela abaixo.

A1capes

As siglas abreviam os nomes dos periódicos, mas isso não é importante. Os números ao lado de cada periódico indicam sua classificação de acordo com um critério objetivo bastante empregado, baseado em impacto e citações (na classificação da CAPES, esses periódicos são todos “A1”, equivalentes).

Veja que a tabela da CAPES casa bem com a tabela internacional até um ponto. Só no final há uma discrepância. Por quê?

Os periódicos com números azuis são “ortodoxos”. Os periódicos com números pretos são os “heterodoxos”. De acordo com o critério objetivo, eles são classificados nas posições #149, #230, #254 e #293. Eles estão nesta lista por serem heterodoxos. Essa é, de fato, a justificativa.

Sem a separação entre “heterodoxos” e “ortodoxos”, essa lista seria muito diferente. A avaliação da produção internacional de alguns economistas e departamentos de economia mudaria radicalmente. Assim, essa distinção é muito importante na academia brasileira.

Os periódicos que não estão nessa lista mas que são bem classificados de acordo com o critério objetivo (os 50 ou 100 primeiros) também são ortodoxos.

Até onde eu sei, todo mundo em Yale e na LSE é ortodoxo. Assim como em quase qualquer lugar que você vai pensar (Harvard, Chicago, MIT, …). Sei que há heterodoxos em Cambridge, na Inglaterra, mas apresentei seminários lá duas vezes, e não me lembro de ter encontrado alguém que se definia como heterodoxo. Creio que são muito poucos os heterodoxos que estão no departamento de economia (acho que há muitos no departamento de Land Economics).

Thomas Piketty é 100% ortodoxo. Ele já publicou artigos nos 5 periódicos no topo da classificação objetiva e nunca publicou em nenhum desses periódicos heterodoxos. Da mesma maneira, Paul Krugman é 100% ortodoxo, Nouriel Roubini é 100% ortodoxo, Joseph Stiglitz é 100% ortodoxo. Não sei se eles sabem que esses periódicos heterodoxos existem.

Em suma, “ortodoxo” em economia não significa muito em termos de opiniões sobre políticas públicas. Um acadêmico considerado “ortodoxo” no Brasil é aquele que está tentando interagir com a grande maioria da comunidade acadêmica internacional. Os heterodoxos, por seu lado, estão tentando construir um outro caminho, que conversa pouco com a grande maioria da comunidade acadêmica internacional.

Alguns equívocos comuns:

– O JPKE (#254) é o Journal of Post Keynesian Economics. Muitos heterodoxos se definem como “pós-keynesianos”. Isso significa que os “ortodoxos” são anti-keynesianos? Não, de forma alguma! Parte fundamental do pensamento keynesiano é que os preços e salários demoram a se ajustar. A implicação chave do meu artigo mais bem publicado é que o ajuste de preços é de fato mais lento do que os dados parecem indicar.

– Os ortodoxos se baseiam em receitas/formulações antigas? Não, de forma alguma! Os heterodoxos “pós-keynesianos” seguem Keynes, um economista brilhante que morreu em 1946. Eu tenho artigos com conclusões “keynesianas”, outros com conclusões completamente contrárias e, estranhamente, é isso que faz de mim um “ortodoxo”: eu não sou “keynesiano”, nem “austríaco”, nem nada disso. E eu acho ótimo que a grande maioria da profissão seja assim.

– Por fim, os economistas que estão publicando nos periódicos heterodoxos têm todo o meu respeito: eles estão produzindo, publicando artigos, ao contrário de uma grande parte das pessoas pagas como professores pesquisadores (com o dinheiro dos seus impostos) que não produzem e não publicam há décadas.

Até agora, falei sobre “ortodoxos” no meio acadêmico. No debate sobre políticas públicas, “ortodoxia” equivale a defender juros altos e ajuste fiscal. Eu acredito que a grande maioria dos economistas que publicam nos principais periódicos do mundo (os “ortodoxos”) defenderia um ajuste fiscal para o Brasil no momento atual, se parassem para estudar o assunto (muitos não devem ter opinião formada a respeito). Mas em outros casos, há muita discordância.

Além disso, essa distinção acaba por passar a ideia que economia se resume às políticas monetária e fiscal. Economia é muito, mas muito mais que isso, mas esse assunto vai ficar para outros posts.

Referências:

– O ranking objetivo eu tirei do artigo de Pierre-Philippe Combes e Laurent Linnemer, “Inferring Missing Citations: A Quantitative Multi-Criteria Ranking of all Journals in Economics”, de 2010. Outros rankings baseados em critérios objetivos vão levar a resultados bastante parecidos.

– Eu usei a avaliação da CAPES de 2012, que foi usada para avaliar a produção dos pesquisadores no triênio 2010-2012. Até onde eu sei, a que será usada para a avaliação neste triênio (ou quadriênio) não foi divulgada.

– O meu artigo com conclusão “keynesiana” mencionado no post é “Sales and Monetary Policy”, coautorado com Kevin Sheedy e publicado no American Economic Review (AER) em 2011.

– Eu publiquei há poucos anos um artigo acadêmico sobre a avaliação da Capes: link para o artigo.

Detalhes:

– Há certo consenso na profissão sobre a relativa importância dos periódicos. Por exemplo, em qualquer universidade pelo mundo dentre as que se ouve falar, todos sabem quais são os cinco periódicos de mais prestígio na área de economia (os “top 5”). Para se tornar professor titular nos melhores departamentos de economia do mundo, a meta é publicar artigos em periódicos “top 5” (entre 2 e 5 artigos, eu diria, dependendo da universidade e de quanto impacto o artigo acaba tendo). Os 5 primeiros da tabela de acordo com a classificação objetiva são, de fato, esses “top 5”, a classificação bate com o consenso da profissão.

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