A Economia no Século 21desemprego – A Economia no Século 21 http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br O olhar de um pesquisador sobre a economia contemporânea Tue, 30 Aug 2016 15:06:40 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Tecnologia cortou centenas de milhões de empregos nos últimos séculos. Que bom! http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/01/18/tecnologia-cortou-centenas-de-milhoes-de-empregos-nos-ultimos-seculos-que-bom/ http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/01/18/tecnologia-cortou-centenas-de-milhoes-de-empregos-nos-ultimos-seculos-que-bom/#respond Mon, 18 Jan 2016 16:25:00 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15246248.jpeg http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/?p=602 A matéria da Folha nos diz que a “tecnologia cortará 5,1 milhões de empregos nos próximos 5 anos”. Devemos nos preocupar?

Bem, no início do século XIX, 80% da população norte-americana trabalhava na agricultura. Hoje, esse número é cerca de 2%. Muitos empregos foram cortados pela tecnologia. Queda semelhante foi observada em todos os países desenvolvidos.

É difícil saber quantos dos empregos existentes há um século não foram destruídos. Nos países mais ricos, certamente menos de 10%. Mas isso não levou a taxa de desemprego para mais de 90%.

O que acontece é que outros empregos foram gerados, novas ocupações surgiram. Se uma parcela ínfima da população produz alimentos para todos, os outros podem dedicar suas vidas à produção de outras coisas.

OK, mas isso é bom, é ruim ou não faz diferença?

O gráfico abaixo mostra a relação entre a renda de um país e a proporção de sua população trabalhando na agricultura para diversos países em desenvolvimento.

The Shares of GDP and Labor in Agriculture decline as Countries develop – Todaro & Smith (2011)0

No eixo horizontal, temos o produto do país (medido em dólares do ano 2000, que vale mais que o dólar de hoje).

No eixo vertical, temos a proporção da população que trabalha na agricultura (pontos azuis) e a proporção do produto que vem da agricultura (pontos pretos). As curvas mostram uma espécie de relação média.

A relação é clara: nos países de renda média, a fração da população trabalhando na agricultura é muito menor. Nos países mais pobres, muita gente ainda trabalha na agricultura.

O problema dos países pobres é justamente que os empregos ruins, pouco produtivos, não foram destruídos pela tecnologia.

A tecnologia, afinal, não entra sem ser convidada. Enquanto há pessoas dispostas a trabalhar por muito pouco, há pouca automatização.

O desenvolvimento caminha com o fim de empregos pouco produtivos — ou seja, com o fim de empregos que existiam há um ou mais séculos.

Nos países mais desenvolvidos (que não estão no gráfico), a proporção de pessoas trabalhando na agricultura é super pequena. Lá, os empregos agrícolas foram destruídos pela tecnologia e pelo comércio internacional. Foram substituídos por outros empregos, muito melhores.

Hoje, produzir algo que vale US$ 100 em Myanmar gera cerca de 10 vezes mais empregos que nos Estados Unidos. Isso não significa que 90% da população americana esteja desempregada.

Significa que um habitante dos Estados Unidos é em média cerca de 10 vezes mais rico que alguém de Myanmar.

A tecnologia nos permite produzir mais com menos recursos. Isso destrói empregos, mas outros empregos são criados. É justamente essa a fonte do desenvolvimento econômico.

– O gráfico deste post está em Michael P. Todaro & Stephen C. Smith (2011) – Economic Development, 11th Edition. The Pearson Series in Economics. Eu tirei deste site.

]]>
0
O desemprego na construção civil e a poupança http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2015/09/24/a-construcao-civil-e-a-poupanca/ http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2015/09/24/a-construcao-civil-e-a-poupanca/#respond Thu, 24 Sep 2015 13:42:36 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15246248.jpeg http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/?p=122 Como mostram os gráficos na matéria da Folha, o setor da construção civil tem sido especialmente atingido pela crise. A reportagem mostra uma queda de 6,7% no nível de emprego no setor nos últimos 12 meses. E isso me faz pensar na caderneta de poupança.

O sistema financeiro brasileiro é cheio de regulamentações. Por exemplo, a caderneta de poupança rende TR + 6% ao ano. Os juros são tabelados, um banco não pode concorrer com o outro e pagar mais (nem menos). A lei também determina que 65% do saldo da caderneta de poupança deve ser destinado ao crédito imobiliário.

Assim, a quantidade de recursos disponíveis para o crédito habitacional depende muito de quanto é captado pela caderneta de poupança.

O rendimento das outras aplicações financeiras oscila de acordo com as variações na taxa Selic, aquela escolhida pelo Banco Central. A Selic varia bastante. Por outro lado, a TR varia muito pouco, tem estado sempre abaixo de 2% ao ano desde 2007. Assim, quando o Banco Central sobe a taxa de juros Selic, a caderneta de poupança fica relativamente menos atraente (o rendimento das outras aplicações financeiras aumenta, mas a poupança não é diretamente afetada).

A consequência é que essas variações nos juros afetam a composição do crédito no Brasil. Quando os juros estão baixos, a poupança fica muito atraente e, portanto, uma parcela maior do crédito é destinada ao financiamento habitacional. Quando os juros estão altos, a poupança fica pouco atraente e a fatia do crédito direcionada ao financiamento imobiliário se reduz.

Isso acontece não porque assim queremos, mas porque a regulamentação tem esse efeito colateral. A proporção do crédito destinada ao financiamento habitacional varia quando o Banco Central mexe na Selic não por conta de alguma razão econômica, mas por conta de regras fixadas no passado. De acordo com este boletim sobre o mercado imobiliário, a caderneta de poupança rende 6% ao ano desde 1861. Dom Pedro II era o rei.

No momento atual, a taxa Selic está bem alta. Consequentemente, a poupança está relativamente muito pouco atraente. Como seria de se esperar, a saída de recursos da caderneta de poupança tem batido recordes. Sem o recurso da poupança, há menos crédito imobiliário. De fato, a Caixa Econômica já apertou as regras para a concessão de novos empréstimos para financiar compra de habitações. Isso reduz a demanda por imóveis. Assim, torna-se menos vantajoso construir — ou seja, há menos empregos no setor.

Em suma, leis obsoletas do nosso sistema financeiro induzem variações indesejáveis na fatia do crédito alocada ao setor habitacional. Esta é uma dentre as muitas ineficiências que assolam nossa economia.

O debate sobre políticas econômicas, em geral, se perde na discussão sobre quem ganha e quem perde com cada proposta de política. Assim, deixamos de resolver problemas que fazem com que a economia como um todo saia perdendo.

Cada uma dessas ineficiências é um pequeno entrave ao desenvolvimento do nosso país, mas em conjunto, elas são muito importantes. Reduzir essas ineficiências deveria ser uma das principais atribuições do governo brasileiro.

Desde 2006, esse tipo de questão não tem recebido muita atenção do governo. Essa é uma causa importante da desaceleração da economia nos últimos anos, culminando com a crise recente.

Referência:

– Para uma análise sobre a evolução do crédito imobiliário em anos recentes e de seu impacto na demanda e nos preços dos imóveis, veja o Boletim FipeZAP número 2, de setembro de 2015, feito pela equipe coordenada pelo Eduardo Zylberstajn.

Detalhes:

– A caderneta de poupança rende TR + 0,5% ao mês, o que dá um pouco mais que TR + 6% ao ano (porque são pagos juros sobre juros), mas isso não é importante para os propósitos do post.

– Naturalmente, as construtoras estão atentas aos movimentos nos empréstimos habitacionais e percebem que vai haver uma redução no crédito imobiliário mesmo antes dessa redução de fato ocorrer.

]]>
0