A Economia no Século 21comércio internacional – A Economia no Século 21 http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br O olhar de um pesquisador sobre a economia contemporânea Tue, 30 Aug 2016 15:06:40 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Comércio com a Argentina já foi mais importante http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2015/11/23/argentina-ja-foi-mais-importante/ http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2015/11/23/argentina-ja-foi-mais-importante/#respond Mon, 23 Nov 2015 04:12:19 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15246248.jpeg http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/?p=394 O gráfico abaixo mostra a proporção de exportações brasileiras destinadas à Argentina e a proporção de importações brasileiras com origem na Argentina nos últimos 20 anos.

XMargentina

Na segunda metade dos anos 1990, a Argentina representava cerca de 12% do comércio internacional brasileiro. Nos últimos 5 anos, o comércio com a Argentina tem estado por volta de 7% do total do comércio internacional do Brasil.

Em parte, isso aconteceu porque a Argentina cresceu menos que outros países no período.

Além disso, a Argentina é um país que troca pouco com o exterior (suas exportações representam pouco menos que 15% do PIB, assim como suas importações).

Será que o novo governo argentino vai dar um outro rumo ao país?

Compare isso com a importância da China para o comércio internacional brasileiro. O gráfico abaixo mostra a proporção de exportações brasileiras destinadas à China e a proporção de importações brasileiras com origem na China nos últimos 20 anos.

XMchina

Na segunda metade dos anos 1990, a China representava menos de 2% do comércio internacional brasileiro. Nos últimos 5 anos, cerca de 17% do comércio do Brasil com o exterior é com a China.

Referência:

– Dados do ipeadata.

Detalhe:

– No gráfico deste post que mostra a população e as importações como proporção do PIB dos países pelo mundo, a Argentina é o país com volume de importações/PIB parecido com o do Brasil, mas população bem menor.

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Quão importantes são as commodities para o Brasil? http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2015/11/10/quao-importantes-sao-as-commodities-para-o-brasil/ http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2015/11/10/quao-importantes-sao-as-commodities-para-o-brasil/#respond Tue, 10 Nov 2015 11:35:42 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15246248.jpeg http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/?p=337 Fala-se muito sobre o efeito das flutuações nos preços das commodities (produtos agrícolas e minerais) sobre a economia brasileira. Variações nos preços das commodities são citados como explicações para o bom e o mau desempenho da economia brasileira em diferentes períodos.

Afinal, quão importantes são as exportações de commodities para a economia brasileira? Qual o efeito de flutuações nos preços das commodities sobre a nossa economia?

Uma maneira de começar a pensar sobre essa questão é a seguinte: suponha que o preço de todas as commodities aumente em, digamos, 5%. Se nada mais se alterar na economia, o que acontece com a renda do país?

Quando sobe o preço das commodities, recebemos mais pelo minério de ferro exportado, mas pagamos mais pela importação do trigo. Assim, o efeito de um aumento no preço das commodities depende da diferença entre quanto exportamos e quanto importamos.

O gráfico abaixo mostra essa diferença, as exportações líquidas de commodities, como percentual do PIB, para todos os países da América do Sul.

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O gráfico mostra que, como proporção do PIB, as exportações líquidas de commodities do Brasil são muito pouco significativas. Nessa base de dados, correspondem a 4% do nosso produto.

Em uma analogia com uma pessoa com uma renda mensal de R$ 10.000, as exportações de commodities do Brasil correspondem a vendas de produtos agrícolas que a pessoas cultiva e que rendem R$ 400 por mês. O ponto é que flutuações nos preços desses produtos agrícolas vão ter um efeito relativamente pequeno na renda comparado com qualquer efeito nos outros R$ 9.600.

Na Argentina, as exportações líquidas de commodities como proporção do PIB são cerca de 2 vezes mais que no Brasil. No Chile, 4 vezes mais. Na Bolívia, 8 vezes mais.

Uma queda no preço de todas as commodities de 5% tem um efeito direto na economia do Chile de 0,8% do PIB, mas um efeito negativo de apenas 0,2% do PIB no Brasil.

Dizendo de outra maneira, flutuações nos preços das commodities que causassem um grande impacto no Brasil abalariam enormemente as outras economias sul americanas.

Mas as commodities não são responsáveis por uma boa parcela das exportações do Brasil? São, mas como expliquei neste post, o Brasil troca pouco com o exterior. Assim, flutuações nos preços dos produtos que exportamos são muito menos importantes para o Brasil que para qualquer outro país sul-americano.

Além disso, o Brasil exporta uma variedade relativamente grande de commodities (no dado de 2012/2013, o minério de ferro representa cerca de 20% das nossas exportações de commodities). O cobre representa mais que 60% das exportações de commodities no Chile; O petróleo é mais que 60% das esportações de commodities na Colômbia; etc.

A alta nos preços das commodities beneficiou a economia brasileira entre 2003 e 2007, mas esta é apenas uma parte da história. A política econômica entre 1999 e 2005 foi muito mais importante, por preparar o terreno para o crescimento da década passada.

Da mesma forma, o recuo nos preços das commodities explica muito pouco do desempenho ruim da nossa economia a partir de 2012 que culminou com a crise atual. A explicação está na política econômica adotada a partir de 2010.

Usar a queda dos preços de commodities em setembro e outubro de 2014 para justificar a grande diferença entre o discurso de campanha e as (tentativas de) ações do segundo governo Dilma ultrapassa os limites do ridículo. O preço do petróleo de fato caiu muito no período, mas o efeito disso no Brasil é ínfimo se comparado a países como a Colômbia — que de fato sofreu com a queda, mas está crescendo 2,5%-3% esse ano.

Como disse José Scheinkman em entrevista recente à Folha, a maior ameaça à economia brasileira são os problemas internos. Como há sempre um intervalo de tempo entre a implementação de políticas econômicas e seu efeito sobre a economia, nem sempre é fácil perceber a ligação. Mas as explicações para o que tem acontecido no Brasil estão nas políticas que temos adotado.

Referências:

– Dados do relatório da UNCTAD, “State of Commodity Dependence” de 2014.

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O Brasil é um país fechado ao comércio internacional? http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2015/11/08/o-brasil-e-um-pais-fechado-ao-comercio-internacional/ http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2015/11/08/o-brasil-e-um-pais-fechado-ao-comercio-internacional/#respond Sun, 08 Nov 2015 12:57:44 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15246248.jpeg http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/?p=330 Como a Folha noticiou há poucos meses, o Brasil é um dos países que menos comercializa com o exterior. O Brasil de fato é um país relativamente fechado ao comércio internacional, mas vale a pena olhar os dados com mais cuidado.

O gráfico abaixo mostra as importações de cada país como proporção do PIB no eixo vertical e a população no eixo horizontal (eu explico o que são os números no eixo horizontal no final do post). Cada ponto é um país. O Brasil é o quadradinho verde, um país muito populoso com uma relação importações/PIB muito baixa.

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Note que países pequenos, à esquerda no gráfico, trocam muito com o exterior. Por outro lado, países maiores, à direita no gráfico, comercializam muito menos com os outros países.

Essa relação faz sentido: para uma empresa, as trocas são absolutamente essenciais: donos de restaurantes não produzem as mesas que usam, médicas não fabricam seus estetoscópios, etc.

Um município se especializa na produção de uma gama maior de bens e serviços, mas trocas com outras cidades continuam sendo fundamentais. Muito poucos dos carros produzidos em uma fábrica ficam em sua cidade: a grande maioria é “exportada” para outros municípios.

Um país pequeno vai, em geral, se especializar em uma gama pequena de coisas, e vai trocar muito com o exterior. Por outro lado, um país grande propicia muitas possibilidades de trocas aos seus habitantes, então o comércio com outros países é relativamente menos importante.

Isso não significa que o comércio não traga benefícios para países grandes. Traz, mas em países maiores, de modo geral, é produzida uma maior variedade de bens e boa parte do comércio se dá dentro do próprio país.

O Brasil é um país grande, tem uma população de 205 milhões de habitantes. Assim, espera-se que o Brasil comercialize menos com o exterior que países menores.

Contudo, mesmo para países grandes, o Brasil comercializa pouco com o exterior. No gráfico, o Brasil aparece ao lado da Nigéria (177 milhões de habitantes), com importações/PIB em torno de 14% (dados do ano passado, esse valor será menor esse ano). Outros países grandes trocam muito mais com o exterior.

As importações da Indonésia (pouco mais de 250 milhões de habitantes) são 24,5% do PIB. As do México (125 milhões de habitantes) são 33,7% do PIB.

Em China e Índia, os maiores países do mundo, com cerca de 1 bilhão e 300 milhões de habitantes cada um, as importações são 19% e 26% do PIB, respectivamente.

O ponto é que não é estranho que o Brasil importe e exporte menos que a Bélgica (importações/PIB de 82%, 11 milhões de pessoas) ou mesmo que a Alemanha (importações/PIB de 39%, mais de 80 milhões de pessoas). Dado o tamanho do país, é natural que o comércio exterior seja menos importante para nós.

Contudo, considerando o tamanho e as características do país, esperaria-se que o Brasil importasse e exportasse pelo menos 20% do PIB. Em 2014, as exportações representaram apenas 11,5% do PIB (as importações foram cerca de 14% do PIB).

Portanto, nosso volume de comércio internacional não chega a dois terços do que se esperaria considerando o tamanho do país. O Brasil é de fato um país relativamente fechado.

Referência:

– Peguei os dados no site de dados do Banco Mundial.

Detalhes:

– O eixo horizontal do gráfico (população) está em escala logarítmica. Isso significa que 7 no gráfico indica 10 milhões (1 seguindo por 7 zeros), 8 indica 100 milhões (1 seguido por 8 zeros), etc.

– Muitos países importam e exportam mais que 100% do PIB (em Cingapura, importações são 163% do PIB). Os pontos na linha de 105% no gráfico indicam países com importações/PIB superiores a esse valor.

– Como é possível exportar e importar mais que o PIB? Se alguém no país compra $30 em matéria prima, produz algo e exporta por $50 e os $20 de lucro são usados para importar bens de consumo, isso significa: $50 de exportações; $ 50 de importações ($30 de matéria prima e $20 de bens de consumo) e $20 de PIB (a diferença entre os $50 que se recebeu e os $30 que se pagou de matéria prima).

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