A Economia no Século 21Sem categoria – A Economia no Século 21 http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br O olhar de um pesquisador sobre a economia contemporânea Tue, 30 Aug 2016 15:06:40 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Minha nota de despedida http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/08/30/minha-nota-de-despedida/ http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/08/30/minha-nota-de-despedida/#respond Tue, 30 Aug 2016 15:06:40 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15246248.jpeg http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/?p=1076 No dia 27/10/2014, a segunda-feira após Dilma Rousseff vencer o segundo turno da eleição presidencial, o índice da Bolsa de Valores caía bastante, puxado pela queda de 12% do valor da Petrobrás. Perguntado, o então Ministro Guido Mantega culpou as oscilações nas bolsas de valores pelo mundo. De fato, a bolsa americana caía naquele momento. Cerca de 0,15%.

Mentiras na política são comuns, mas essa era uma mentira estranha. Afinal, praticamente todas as pessoas que acompanhavam a bolsa de valores — e leriam a notícia — saberiam que o ministro estava mentindo. Qual o ponto de contar uma mentira dessa?

Naquela segunda-feira de outubro 2014, essa mentira, pouco importante, era a cereja no bolo do surrealismo que tomara conta do debate sobre política econômica no Brasil. Esse surrealismo era muito frustrante. Eu não consegui trabalhar.

Começava então o processo que me tirou da minha toca no mundo acadêmico para tentar me comunicar com o público geral.

Em 2007, eu havia saído da toca para escrever um livro sobre princípios de teoria econômica para o público geral (o Economia sem Truques, co-autorado com Carlos Eduardo Gonçalves). Eu não achava que voltaria a fazer algo desse tipo tão cedo.

Até aquela segunda-feira dia 27/10/2014.

No final de julho de 2015, saía publicado A Riqueza da Nação no Século XXI. Uma semana depois, a Folha publicaria uma resenha muito legal do livro. Eu estava pronto para voltar a me dedicar integralmente à minha vida acadêmica.

Só que não.

Em agosto, aceitava o convite da Folha para escrever esse blog. O blog está completando um ano e eu gostei muito de escrever aqui. Muito mesmo.

Fico muito agradecido ao Vinicius Mota e à Ana Estela de Sousa Pinto pelo convite e por toda a força que me deram durante esse ano. E a todo o pessoal da Folha.

Claro deve estar, sempre tive total liberdade para escrever o que quisesse (quem não acha que isso é claro deveria rever suas teorias conspiratórias (mas provavelmente não vai)).

Não esperava despertar tanto interesse discutindo o que significa ortodoxo em economia ou explicando teorias econômicas sobre a ausência de um imperador na Amazônia antiga.

Tentei sair do lugar comum falando de assuntos como a Lava Jato e o meio ambiente.

Claro que muitas pessoas não gostaram do que eu escrevi. Eu não estaria fazendo meu trabalho se não desagradasse alguém.

Mas a grande maioria dos comentários que recebi (em emails ou nas redes sociais) foram feitos com muita educação. Leitores foram muito carinhosos comigo. Me senti acolhido nesse mundo da comunicação de massa.

Só que escrever esse blog me toma bastante tempo, e eu ando com muito pouco tempo livre.

Por isso, às vezes, posts ou colunas não ficaram suficientemente bons. Esse sobre a escola sem partido é um exemplo. Eu publiquei um outro post no dia seguinte esclarecendo o ponto.

Vários posts me custaram horas de descanso preciosas. O da sustentabilidade da dívida pública eu escrevi num sábado entre as 4:30 e as 6:30 da manhã (sei disso pela troca de emails com um amigo sobre o assunto).

Há uns dois meses, avisei à Folha que sairia ao completar um ano.

Estou cansado. Quero voltar pra minha toca.

Essa nota de despedida fecha um ano de blog que me deu imensa satisfação e um processo que começou em outubro de 2014.

Ao pessoal da Folha, aos leitores e a quem compartilhou meus posts: muito obrigado pela oportunidade, pela atenção e pela força. Esta foi para mim uma experiência muito gratificante.

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Quanto a eleição de Dilma custou à Petrobras? http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/08/26/quanto-a-eleicao-de-dilma-custou-a-petrobras/ http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/08/26/quanto-a-eleicao-de-dilma-custou-a-petrobras/#respond Fri, 26 Aug 2016 11:34:59 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15246248.jpeg http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/?p=873 De acordo com matéria da Folha, em mais um evento “em defesa da Petrobras“, Lula disse que a gestão Temer quer promover privatizações, incluindo a venda de ativos da Petrobrás, porque não sabe governar.

De acordo com esse argumento, a Petrobrás seria mais valiosa nas mãos do governo do PT, que saberia tornar a Petrobrás “a maior empresa de petróleo do mundo”.

Será que isso é verdade?

Sabemos que o valor de mercado da Petrobrás despencou durante o governo Dilma, mas não podemos inferir causalidade a partir daí. Outras coisas podem ter acontecido nesse período e afetado o valor da empresa.

Como separar o efeito de quem está no governo de todos os outros fatores que afetam o valor da Petrobrás?

Augusto Carvalho e eu estimamos qual teria sido o valor da Petrobrás se a presidente Dilma Rousseff tivesse perdido o segundo turno da eleição de 2014.

Antes de mostrar o resultado, vou passar uma ideia sobre como a gente estimou.

Quando o Barcelona joga contra o La Coruña, quem aposta numa vitória do Barcelona recebe, digamos, $1 para cada $4 que apostou se o Barcelona ganha. Quem aposta que o Barcelona não vence recebe $4 para cada $1 que apostou se acertar.

O preço reflete as expectativas das pessoas. Se $1 apostado no Barcelona rendesse mais $1 em caso de vitória do time, todo mundo ia querer apostar no Barcelona. O preço vigente é o que iguala a quantidade de dinheiro apostado contra o Barcelona e a quantidade de dinheiro apostado a favor.

O interessante é que alguém que não sabe nada sobre futebol pode concluir que o Barcelona é o grande favorito para vencer a partida apenas olhando o preço das casas de apostas.

O mesmo acontece com outros preços de ativos financeiros. Ao olhar o preço, podemos inferir o valor que as pessoas dão àquele ativo, e isso nos traz informação sobre suas expectativas.

Na bolsa de valores, além das ações da Petrobrás, são transacionadas opções. Funciona assim: quem compra a opção paga, digamos, R$ 1 pela opção de comprar uma ação da Petrobrás a R$ 10 daqui a um mês. O preço dessa opção (R$ 1) mostra a expectativa que as pessoas tem sobre as chances da ação da Petrobrás custar mais de R$ 10 em um mês.

Usando os preços das opções que dão direito a comprar ação da Petrobrás aos mais diversos preços, a gente tem uma boa ideia sobre as expectativas das pessoas sobre as chances da ação da Petrobrás custar mais de R$ 15, mais de R$ 16, mais de R$ 17, etc.

Nosso método de estimação vê como essa expectativa variou na época da eleição.

Existem modelos matemáticos utilizados no mercado financeiro para tentar mapear as características de uma ação hoje (como o preço e quanto ele varia, em média, por dia) às chances das ações custarem mais que um certo valor. Esses modelos podem ser usados para calcular o preço das opções (Robert Merton e Myron Scholes ganharam o Prêmio Nobel em 1997 por suas contribuições nessa área).

Augusto Carvalho e eu pegamos alguns modelos usados com frequência para entender preços de opções e os modificamos para que eles considerassem dois cenários. Em um dos cenários, o preço seria mais alto (chamemos de “cenário alto”).

Com esse modelo em mãos, a gente estimou a probabilidade diária de cada cenário e a diferença de preço entre o “cenário baixo” e o “cenário alto” (que poderia ser nula, os dados nos diriam).

A probabilidade do cenário baixo foi essa:

probreeleicao

A partir do dia 27/10, a segunda feira após a eleição, a probabilidade do “cenário baixo” é praticamente 100%. Isso é interessante porque nós não falamos para o modelo que haveria uma eleição no dia 27/10. Só dissemos que havia dois cenários e pedimos para que ele estimasse as probabilidades de acordo com os preços das opções. O modelo encontrou esse resultado sozinho.

Podemos então inferir que o cenário baixo era a reeleição da Presidente Dilma Rousseff.

A probabilidade de reeleição fica oscilando entre 40% e 60% nas duas primeiras semanas. Na 3a feira dia 21/10, quando as pesquisas começam a mostrar Dilma em vantagem, essa probabilidade vai a 70% e ultrapassa os 85% na 5a feira dia 23/10, quando as pesquisas indicavam a maior margem em favor da reeleição.

A pergunta mais interessante é sobre a diferença de valor da Petrobrás nos dois cenários.

O resultado é que no cenário alto, identificado com a vitória de Aécio Neves, as ações da Petrobrás teriam passado a valer entre 62% a mais.

Essa é a estimativa mais conservadora do trabalho.

O valor da Petrobrás é a soma do valor de todas as suas ações. Podemos então perguntar qual seria o efeito da derrota de Dilma Rousseff no valor da Petrobras.

Na época, essa diferença significaria algo como R$ 113 bilhões.

Em valores da época, isso era mais ou menos o valor de mercado do Bradesco. Ou uns 4 anos de Bolsa Família.

Nosso trabalho não tem nada a dizer sobre os motivos dessa diferença. Possíveis culpados incluem a Lei do Conteúdo Nacional, política desenvolvimentista que passou a obrigar a Petrobrás a comprar equipamentos com componentes nacionais, mais caros ou piores que os importados; a política de segurar os preços da gasolina; e investimentos politicamente motivados que deram retorno ruim.

De qualquer modo, é bizarro que partidários da presidente afastada a defendam em eventos “em defesa da Petrobrás”, empresa que valeria muito mais sem ela no governo.

Referências:

– O trabalho citado no post é este aqui (State-controlled companies and political risk: Evidence from the 2014 Brazilian election, de Augusto Carvalho e Bernardo Guimarães).

– Às vésperas da eleição de 2014, a Petrobras era o principal componente do chamado “kit eleições” (ver, por exemplo, esta reportagem da Folha).

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Debates na TV e a legislação http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/08/23/debates-na-tv-e-a-legislacao/ http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/08/23/debates-na-tv-e-a-legislacao/#respond Tue, 23 Aug 2016 15:07:24 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15246248.jpeg http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/?p=1058 Este vídeo de 2 minutos e meio mostra um trecho de um debate envolvendo os líderes dos três principais partidos britânicos (efetivamente, os três principais candidatos a primeiro ministro), algumas semanas antes das eleições britânicas de 2010.

Dois pontos principais chamam a atenção nesse vídeo.

O primeiro é que em pouco mais de 2 minutos, fica clara a diferença nas propostas sobre um assunto importante. Gordon Brown, então candidato trabalhista, defende postergar o ajuste fiscal por conta da recessão, enquanto David Cameron, o candidato conservador, defende um ajuste imediato. Nick Clegg, o candidato liberal-democrata defende uma mudança maior na legislação tributária.

O segundo é o formato do debate, que possibilita uma discussão útil. Nos nossos debates, um candidato pode falar por 2 minutos, outro responde por 1 minuto, e assim vai. Os mediadores se limitam a dizer de quem é a vez de falar ou a fazer perguntas.

Lá, a regra é mais flexível. O mediador interrompe os candidatos, diz quem deve falar dependendo de como vai se encaminhando o debate de modo a estimular o embate entre as ideias.

O vídeo ilustra as vantagens de um sistema com regras mais flexíveis, com mais liberdade para o moderador. A discussão flui, os candidatos não podem fugir do tema, percebe-se melhor a proposta de cada um.

Por outro lado, a regra mais rígida tem a vantagem de evitar que o moderador favoreça ou prejudique um candidato específico, tornando o processo mais imparcial.

A regra rígida não é, porém, a única maneira de evitar esse tipo de problema. O viés na condução do debate mancha a reputação do moderador ou da emissora de TV. O público pode puni-los dando menos valor a esses debates e preferindo outras emissoras nas próximas vezes.

Portanto, a regra rígida é a melhor solução se (i) as outras maneiras de disciplinar o processo não funcionam muito bem; e (ii) se o benefício da regra rígida compensa o custo de termos um debate menos interessante.

O assunto vem à tona por causa da regra que excluiu Luiza Erundina do debate. Ex-prefeita de São Paulo, com uma quantidade de votos razoável nas pesquisas, faria sentido que Erundina tivesse participado do debate.

O problema é que não faz o menor sentido obrigar as emissoras de TV e jornais a dar espaço para todos os candidatos. Há, então, dois caminhos possíveis.

O primeiro é tentar achar uma regra que funcione bem.

O segundo é esquecer as regras e deixar que as emissoras de TV sejam disciplinadas pelo público.

A questão é mais geral que o debate.

Temos, no Brasil, muitas regras.

Parte do problema é que, em geral, não confiamos nas outras maneiras de disciplinar as ações das pessoas.

Por exemplo, as regras de licitações para compras do governo tornam a administração pública engessada demais. Seria desejável que houvesse regras mais simples e menos burocracia para compras pequenas, por exemplo.

Contudo, para dar essa liberdade aos funcionários públicos, seria necessário que conseguíssemos punir os desvios de conduta. Se não acreditamos que as instituições vão, de modo rápido e efetivo, detectar a corrupção, entender se de fato houve má fé e punir os responsáveis, vamos acabar preferindo as regras rígidas.

O problema, nesse caso, é que acabamos limitando ações que poderiam melhorar muito o serviço público.

Nesse exemplo, a solução depende das instituições e do sistema de justiça. Em outros casos, como o do debate, o público seria o agente disciplinador.

A discussão sobre as regras do debate passou pelas páginas da FolhaHelio Schwartsman e o editorial da Folha defenderam menos regras e a liberdade para que os meios de comunicação decidissem quem convidar para os debates. Bernardo Mello Franco também apontou o problema.

Eu também acho que não precisamos dessas regras. Basicamente porque (1) é mais fácil disciplinar os meios de comunicação, dando menos valor aos debates que não convidam os candidatos relevantes, do que disciplinar as ações de um congresso nacional eleito a cada quatro anos e (2) regras impostas pelos legisladores nunca serão tão apropriadas às mais variadas situações, a melhor solução requer liberdade de ação.

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Adotamos políticas públicas ruins por ignorância ou maldade? http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/08/19/adotamos-politicas-publicas-ruins-por-ignorancia-ou-maldade/ http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/08/19/adotamos-politicas-publicas-ruins-por-ignorancia-ou-maldade/#respond Fri, 19 Aug 2016 05:00:23 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15246248.jpeg http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/?p=1055 Com políticas públicas adequadas, o Brasil seria um país muito mais próspero. Bons governos nos países mais pobres teriam reduzido bastante a pobreza e o subdesenvolvimento.
Por que frequentemente adotamos políticas públicas ruins?

Pode ser culpa da ignorância. Eleitores apoiam e exigem políticas públicas que são de fato ruins para o país como um todo. Medidas adotadas pelos governos têm resultados negativos inesperados.
Alternativamente, pode ser culpa da maldade. Interesses escusos direcionam as políticas públicas para beneficiar uns poucos à custa da maioria.

Tomando um exemplo concreto, considere a atuação do BNDES no governo de Dilma Rousseff.

A meu ver, essa foi uma política desastrosa. Gastar mais do que o custo do Bolsa Família em subsídios para realocar crédito é um péssimo uso dos recursos públicos. Por que o BNDES agiu dessa forma?

Se a culpa é da ignorância, o motivo é que muita gente acha (ou achava) importante o governo fornecer crédito a taxas de juros inferiores às do mercado para fomentar o desenvolvimento da indústria nacional.

Se a culpa é da maldade, os empréstimos subsidiados do BNDES existiram para encher os bolsos de alguns, todos sabiam que essa intervenção não fazia sentido.

Suponha, porém, que eu esteja enganado e a atuação do BNDES no governo de Dilma Rousseff tenha estimulado o desenvolvimento econômico do país. Nesse caso, por que há oposição à atuação do BNDES?

Novamente, se a culpa é da ignorância, o motivo é que pessoas como eu não entendem alguma coisa importante.

Se a culpa é da maldade, quem se opõe ao BNDES está defendendo o capital internacional, os rentistas, a subserviência nacional aos interesses do grande capital.

A meu ver, a ignorância é a maior culpada.

Se o BNDES fez maravilhas pelo Brasil e minhas críticas estão incorretas, é porque sou burro, não porque sou mau —e isso se aplicaria a muitos outros economistas.

Se eu estou certo e a atuação do BNDES foi um desastre, cabe então perguntar por que não havia mais oposição a esses empréstimos subsidiados.

A maldade não é inocente. Muita gente ganhou dinheiro com os juros altamente subsidiados do BNDES e financiou campanhas.

Só que empresário querendo empréstimos a juros baratos não é privilégio do Brasil. A diferença é que aqui há um pensamento (de esquerda) que justifica esses subsídios.

Muitos professores de economia espalhados pelo Brasil acham (ou achavam) que esse tipo de política pública beneficiaria o país. Era impopular na campanha criticar a atuação do BNDES. Muitas premissas na qual a atuação do BNDES se baseava ainda são aceitas pela maioria.

Economistas que defendiam a política econômica do governo até pouco tempo atrás ou insistem no erro ou já vieram com novas soluções baseadas nas mesmas velhas premissas. Até onde posso julgar, esses economistas de fato acreditam no que falam.

Foi por achar que o debate sobre economia está mal informado que eu resolvi contribuir para a discussão no blog da Folha e na coluna. Foi um ano, espero que tenha sido útil. Vou com o blog até o fim do mês, esta é a última coluna no jornal impresso. Muito obrigado pela atenção.

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A renda dos futebolistas, das futebolistas e dos atletas em geral http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/08/15/a-renda-dos-futebolistas-das-futebolistas-e-dos-atletas-em-geral/ http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/08/15/a-renda-dos-futebolistas-das-futebolistas-e-dos-atletas-em-geral/#respond Mon, 15 Aug 2016 12:08:03 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15246248.jpeg http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/?p=1043 Por conta dos jogos olímpicos, muito tem sido falado a respeito da discrepância entre a renda dos jogadores de futebol e a das jogadoras de futebol.

A primeira parte para a explicação sobre essa discrepância de renda é óbvia.

Em maio de 2016, o Flamengo se sagrou campeão brasileiro de futebol. Feminino. O primeiro jogo da final, contra o Rio Preto, foi em casa. A entrada era gratuita, mas o público no estádio era muito pequeno.

Claro deve estar, há muito menos demanda (de homens e de mulheres) por jogos de futebol feminino que por jogos de futebol masculino. Essa menor demanda se traduz em menos renda de ingressos e da televisão, menos venda de camisetas, menos dinheiro de patrocinadores.

De modo geral, a renda dos atletas depende muito dessa demanda de torcedores. Isso vale não só para o futebol mas também para o tênis, vôlei, basquete e todos os outros esportes que podem sobreviver sem financiamento estatal.

A questão interessante, portanto, não é sobre o mercado de trabalho, mas sobre a demanda dos torcedores. Por que há mais demanda por futebol masculino que por futebol feminino, ou por campeonatos de judô e arco e flecha?

Há dois tipos de explicação:

1. Os esportes são mais demandados por serem mais interessantes. A grande maioria das pessoas, dentre as opções (a) assistir futebol, (b) assistir o campeonato de arco e flecha e (c) fazer outra coisa, escolhe (a) ou (c) porque assistir e torcer no futebol é muito mais divertido que no arco e flecha.

Simples, e deve explicar boa parte da diferença na demanda pelos diferentes esportes. Mas não explica tudo.

2. Os esportes mais demandados hoje são os que eram mais demandados ontem. Se muitas pessoas estão acostumadas a torcer por seus times de futebol masculino, isso gera uma demanda grande por futebol masculino hoje que persiste por muito tempo.

Parte importante da explicação por essa persistência nos gostos é que torcer é uma parte fundamental do prazer que as pessoas têm ao acompanhar competições esportivas. Muito menos gente assistiria a luta da judoca de quimono azul contra a de quimono branco se uma delas não tivesse BRA escrito nas costas e isso não fosse parte de uma grande competição, a Olimpíada.

A paixão por um time (ou pela equipe de um país) não se desenvolve do dia para a noite. Muito pouca gente vai deixar de torcer pelo Corinthians e passar a torcer para a Portuguesa porque esta está com um time melhor em um determinado ano.

Da mesma maneira, é difícil trocar a paixão pelo time de futebol do Corinthians pela paixão por um time de voleibol, futebol feminino ou por um astro do judô, do tênis ou do arco e flecha. Esse é o “efeito torcida”.

Como muita gente segue o campeonato de futebol e torce para algum time, a TV e os jornais dão mais destaque ao futebol masculino, os amigos falam mais de futebol que de outros esportes. Com tanto dinheiro envolvido, o futebol acaba atraindo uma grande quantidade de ótimos atletas que treinam todo dia, em ótimas condições. Tudo isso estimula ainda mais o gosto por esse esporte.

Esse é o “efeito coordenação”: se o basquete fosse o esporte mais popular no país e recebesse mais atenção da televisão e dos nossos amigos, cada um de nós teria mais estímulos para acompanhar o campeonato de basquete.

Por causa do efeito torcida e do efeito coordenação, o consumo por competições esportivas é muito diferente do consumo de outros bens. Você pode gostar do telefone Motorola, mas é relativamente fácil trocá-lo por um Samsung se o modelo novo deste lhe parecer melhor.

Sabendo disso, times de futebol investem em novos mercados, onde a paixão pelo futebol ainda não existe, para ampliar sua clientela. É mais fácil para o Manchester United conseguir novos torcedores na Ásia que na Inglaterra, onde quase todo mundo já tem um time.

É por isso, aliás, que sempre há jogos do campeonato inglês de futebol ao meio dia do horário local. Interessa aos times ingleses mostrar jogos ao vivo na Ásia às 9 da noite. E, de fato, na Ásia, o campeonato inglês é muito popular.

Em suma, há grande persistência na demanda por esportes por causa do efeito torcida e do efeito coordenação.

Isso não significa que nada mude. O voleibol é muito mais popular hoje no Brasil do que nos anos 1970. O fenômeno Guga aumentou a demanda pelo tênis. Mas significa que as mudanças demoram.

Então, o que gera a demanda por cada esporte?

É razoável afirmar que o futebol é o esporte mais popular no mundo pelo primeiro motivo: para a maioria, é muito divertido assistir (e jogar). Judô e arco e flecha são, para a maioria, menos divertidos.

O sumô é muito popular no Japão. Os ingleses gostam de cricket. Meu chute é que a persistência (o segundo motivo) explica parte significativa da popularidade desses esportes. Se isso for verdade, com o tempo, bem aos poucos, a demanda por esses esportes cairá.

O futebol feminino deve ficar mais popular com o tempo. Quão mais popular, eu não sei, mas de qualquer modo, esse processo vai demorar.

Assim, em 2020, assistiremos novamente ao campeonato olímpico de futebol feminino e, mais uma vez, leremos sobre a discrepância na renda dos diferentes atletas.

A olimpíada gera um efeito torcida pelo Brasil e um efeito coordenação que direciona nossa atenção aos mais variados esportes olímpicos. Só que isso dura 15 dias. O futebol masculino tem esses dois efeitos a seu favor o tempo todo.

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Conscientização sobre o meio ambiente pra quê? http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/08/09/conscientizacao-sobre-o-meio-ambiente-pra-que/ http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/08/09/conscientizacao-sobre-o-meio-ambiente-pra-que/#respond Tue, 09 Aug 2016 10:40:04 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15246248.jpeg http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/?p=1027 O trecho na abertura das Olimpíadas sobre o aquecimento global foi mais um na longa série de eventos para conscientizar as pessoas sobre a necessidade de preservar o meio ambiente.

O problema, em linhas gerais, é que a Terra tem uma capacidade escassa para assimilar poluição sem que isso prejudique a nossa vida no planeta.

As crianças aprendem isso na escola. (Quase) todo mundo entende.

De acordo com pesquisa do Ibope (de 2012, foi a que eu achei), 94% da população brasileira está preocupada com o meio ambiente; 93% acredita que a temperatura da terra está aumentando; 65% considera o problema do aquecimento global urgente;  55% afirma que todos os países – ricos e pobres – devem contribuir igualmente para a redução do aquecimento global. Quando a pergunta é “O que priorizar quando houver conflito entre a proteção do meio ambiente e o crescimento econômico”, o meio ambiente ganha fácil, 44% a 8%.

Ainda assim, não temos progredido muito na questão. Continua-se então culpando os governos que não fazem o que deveriam (o quê?) e vamos assistindo a mais eventos e manifestações para conscientizar a população.

A nossa incapacidade de resolver esse problema de escassez contrasta com a nossa capacidade de lidar com o problema da escassez cíclica de morangos (entre zilhões de outros exemplos).

Todo ano, há muito menos morangos disponíveis para o nosso consumo em abril do que em outubro. A diferença é grande. Mas isso não causa problema algum: nós nos adaptamos e consumimos muito menos morangos em abril, muito mais em outubro. Funciona perfeitamente.

Curiosamente, não há programas para nos conscientizar da necessidade de sermos mais parcimoniosos no nosso consumo de morango. Não há eventos explicando que não somos capazes de produzir tanto morango em abril, que precisamos conter nossos desejos consumistas.

O que acontece é que o preço do morango é muito maior em abril. Aí, uns compram morango e pagam mais. Outros substituem o consumo de morango pelo de outras frutas.

É o sistema de preços que nos avisa sobre a escassez relativa de cada produto e que mantem os produtores informados sobre as nossas demandas.

Como um incansável mensageiro, o sistema de preços vai agindo sobre as demandas e ofertas de bens na economia, direcionando os esforços de produção da sociedade para o que nós queremos consumir e as nossas demandas para o que é menos custoso produzir.

O sistema de preços nos avisa que produzir smartphones é muito mais barato que há uma década (então, consumimos mais), nos faz incorporar quedas de safras em nossas demandas, informa aos ingressantes no mercado de trabalho, por meio dos salários dos mais diversos profissionais, os tipos de trabalho mais demandados, etc.

Assim, o sistema de preços resolve o problema da alocação de morangos escassos — e de mais zilhões de outras coisas.

Só que o sistema de preços não é perfeito.

Os custos da produção ou consumo de algo que não incidem diretamente sobre quem produziu ou consumiu não são captados pelos preços das coisas.

Por exemplo, quando queimamos combustíveis fósseis, poluímos o planeta. Só que esse custo, a poluição, não é arcado por quem queimou, mas por toda a sociedade. A poluição que cada um de nós causa quando usa o carro não torna nossa viagem mais cara. Os poluentes emitidos pelas empresas não impactam seus custos de produção.

Portanto, essa poluição não é captada pelo sistema de preços.

Assim, continuamos sem resolver o problema da escassez de capacidade da Terra absorver poluição.

A solução para esse tipo de problema foi formalmente apresentada por Arthur Pigou em 1920. A ideia básica é simples: devemos incluir esses custos que não incidem diretamente sobre o produtor ou consumidor no sistema de preços.

No caso particular, devemos incluir os custos de queimar combustíveis fósseis no preço pago pelo consumidor ou produtor (dá no mesmo). Isso se chama imposto.

Para cobrir seus gastos, o governo taxa a produção de bens, o trabalho e uma série de outras coisas. Ao tornar mais caro comprar um bem ou pagar um funcionário, esses impostos desincentivam a produção e o trabalho no setor formal — não porque assim queremos, mas porque impostos desincentivam justamente o que gera a base da arrecadação.

Em geral, isso é um problema.

Só que a emissão de poluentes e o trânsito de veículos em cidades congestionadas são coisas que nós de fato queremos desestimular. Então devemos taxar.

E aí, algumas pessoas e empresas vão, aos poucos, reduzir sua demanda por combustíveis. O preço mais alto cria incentivos para consumidores buscarem produtos e serviços que requerem menos queima de combustíveis fósseis. Tecnologias alternativas passam a ser mais atrativas.

E quem quiser queimar combustível poderá fazê-lo sem culpas, pois estará pagando pelo dano causado ao meio ambiente.

O imposto sobre combustíveis é um bom imposto.

Se você acha que temos impostos demais, deve defender que a introdução desses impostos seja acompanhada da redução de outros. Mais pedágio urbano e impostos sobre combustíveis, menos impostos sobre a produção de bens e serviços (ICMS, IPI, ISS, COFINS…).

Se você é particularmente preocupado com a ecologia, deve defender altíssimos impostos sobre o combustível e um pedágio urbano salgado.

No momento, quase todo mundo está preocupado com o meio ambiente. Ao mesmo tempo, a grande maioria da população parece ser contra a proposta de pedágio urbano; a Cide (o imposto sobre os combustíveis) é impopular; a redução do IPI sobre os carros em 2009 foi saudada por muitos.

Não falta conscientizar as pessoas sobre a necessidade de preservar o meio ambiente.

Falta apoio a ações concretas que façam a geração de poluição custar aos nossos bolsos.

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– Detalhe: a evidência disponível sugere que um imposto sobre os combustíveis de fato tem efeito bem pequeno no curto prazo, mas parece ter um efeito bem maior no longo prazo, por incentivar o desenvolvimento de tecnologias alternativas. Tratei disso neste post.

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Mais sobre a proposta de “Escola sem Partido” http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/08/06/mais-sobre-a-proposta-de-escola-sem-partido/ http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/08/06/mais-sobre-a-proposta-de-escola-sem-partido/#respond Sat, 06 Aug 2016 10:00:36 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15246248.jpeg http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/?p=1018 Escrevi sobre conteúdo político na sala de aula, com referência à proposta de “Escola sem Partido” neste post. Bastante gente escreveu que a proposta busca exatamente implementar o que eu defendo. Vou esclarecer o ponto.

O quarto dever dos seis deveres do professor da proposta é que “ao tratar de questões políticas, sócio-culturais e econômicas, o professor apresentará aos alunos, de forma justa — isto é, com a mesma profundidade e seriedade –, as principais versões, teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito”.

Os meus cursos de economia não obedecem esse dever.

E eu não pretendo mudar. Até porque eu não conseguiria.

Claro que na aula sobre o BNDES, eu explico quais seriam as externalidades que justificariam as ações do banco; quando eu falo de programas de transferência como o Bolsa Família, eu explico quais seriam as objeções; quando eu falo sobre a proposta de Passe Livre, eu explico o que poderia justificar a proposta.

Mas minha visão transparece. A meu ver, porque a teoria econômica e a evidência empírica existente não dão qualquer suporte às ações do BNDES de Luciano Coutinho, justificam o programa Bolsa Família, e vão contra a proposta de Passe Livre.

Só que quem for favorável ao BNDES e à proposta de Passe Livre ou contra o Bolsa Família pode argumentar que eu não apresentei a perspectiva concorrente de forma justa. Afinal, há mais perspectivas sobre um tema qualquer do que cabe em um curso.

Em muitas questões, eu consigo passar uma visão mais agnóstica.

Mas em outras, eu sou até mais taxativo. O Brasil não gasta 40% do que arrecada para pagar juros da dívida. Esse número não considera a inflação. Sem considerar a inflação, o PIB do Brasil com José Sarney na presidência cresceu mais que o dos Estados Unidos em um século, mas isso, assim como os tais 40% da dívida gastos com juros, não significa nada.

Eu não sei apresentar a perspectiva contrária de forma justa.

Portanto, a única maneira do meu curso obedecer o quarto dever seria não tocar em questões políticas.

Eu não estou satisfeito com o conteúdo de um grande número de livros de história e com a prova do Enem. Há um problema.

Mas eu acho que esse quarto dever só é possível de ser cumprido se o curso tiver muito pouco ou nenhum conteúdo político. E aí, segue o argumento do outro post: conteúdo político é inevitável em um curso interessante.

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Expor aluno a visões diferentes é o melhor remédio contra lavagem cerebral http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/08/05/expor-aluno-a-visoes-diferentes-e-o-melhor-remedio-contra-lavagem-cerebral/ http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/08/05/expor-aluno-a-visoes-diferentes-e-o-melhor-remedio-contra-lavagem-cerebral/#respond Fri, 05 Aug 2016 05:00:28 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15246248.jpeg http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/?p=1011 Eram os anos 1960. Antonio, estudante brasileiro do ensino médio, fazia intercâmbio nos Estados Unidos e se matriculara no curso “Problemas modernos”. O curso combinava política, sociologia e economia. Era o auge da Guerra Fria, mas uma das primeiras leituras era o “Manifesto Comunista”, de Marx e Engels.

O curso, porém, não continuava nessa mesma toada. A outras leituras sobre política seguiam-se estudos de casos sobre questões empresariais e capítulos do livro de introdução à economia de Paul Samuelson, na época a principal referência para iniciantes no estudo da ciência econômica.

O exemplo desse curso contrasta com as ideias na qual se baseia o movimento Escola sem Partido. A proposta pretende que o professor não promova suas próprias opiniões políticas ou partidárias, com o objetivo de evitar a doutrinação e a lavagem cerebral.

A ideia por trás da proposta é que seria legal evitar que as aulas tivessem conteúdo político. Eu não concordo com essa ideia por dois motivos.

(Atualização: bastante gente escreveu que a proposta busca implementar justamente o que eu defendo. Eu não me expressei bem. Explico o ponto neste post.)

O primeiro é que essa ideia me parece impossível de ser implementada. Eu não saberia dar um curso de economia sem implicações para o debate político.

Eu já acho impossível dar um curso de matemática financeira ou de contabilidade nacional sem contradizer, por exemplo, o programa do PSOL à Presidência do Brasil na eleição passada. O programa via “indícios de ilegalidades” na cobrança de juros compostos e afirmava que o governo federal gastava mais de 40% de seus recursos para pagar sua dívida. Se eu não posso explicar que essas afirmações estão incorretas, eu não posso dar um curso interessante.

Se já há problemas no curso de matemática e contabilidade, em economia e ciências sociais é impossível dar um curso sem conteúdo político.

O segundo motivo, o mais importante, é que o melhor remédio contra a doutrinação e a lavagem cerebral não é evitar que o aluno seja exposto a um discurso político: é expor o aluno a visões diferentes.

Uma quantidade razoável de pessoas no mundo acredita que o mundo foi criado há 6.000 anos. O problema não é aprender essa teoria. É não aprender a teoria alternativa e não ser exposto às evidências empíricas sobre a questão.

Da mesma maneira, não há nenhum problema em ler o “Manifesto Comunista”, é até legal (eu li uma versão em quadrinhos). O problema é não ser exposto a outras visões sobre a economia.

Ao ser exposto a múltiplas visões, o aluno aprende a duvidar da próxima e a buscar maneiras de decidir se uma teoria faz sentido — em particular, aprende a procurar dados e evidências.

Isso é mais importante do que aprender a visão considerada “certa” hoje — seja lá qual for essa visão. E, para o estudante, é muito estimulante.

Foi assim com Antonio, o intercambista. Ele planejava prestar o vestibular para engenharia, mas, em razão do curso sobre “Problemas modernos”, decidiu cursar economia. Cerca de 15 anos depois, Antonio Sanvicente terminaria o doutorado em Stanford e se tornaria, até onde eu sei, o primeiro brasileiro a publicar um artigo no periódico acadêmico de maior prestígio na área de finanças, o “Journal of Finance”.

Atualização: A primeira publicação de um brasileiro no Journal of Finance não foi de Antonio Sanvicente. O Professor Ney Brito, que também fez doutorado em Stanford, publicou antes dele (a informação me foi passada pelo próprio Antonio Sanvicente).

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Quando a alimentação é dominada pela lógica privada do capital http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/08/03/quando-a-alimentacao-e-dominada-pela-logica-privada-do-capital/ http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/08/03/quando-a-alimentacao-e-dominada-pela-logica-privada-do-capital/#respond Wed, 03 Aug 2016 21:11:47 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15246248.jpeg http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/?p=1006 O secretário de saúde do município de São Paulo e ex-ministro dos governos Lula e Dilma acaba de lamentar, em sua rede social, que:

twitterpadilha

Ao contrário do que pensa Alexandre Padilha, isso é muito bom.

Quando o Khmer Vermelho tomou o poder no Camboja, as pessoas foram forçadas para fora de suas casas nas cidades para produzir alimentos nos campos. Alimentos deixaram de ser mercadoria. Acabava a lógica privada do capital.

Como resultado, estima-se que cerca de 20% da população do país tenha morrido, a maioria de fome.

Da mesma maneira, a grande fome da China de Mao Tsé-Tung que levou à morte de milhões de pessoas se deu quando alimentos não eram produzidos por quem busca o lucro.

Em 1978, alimentos não eram mercadoria na China e a China era um país miserável, pobre como a Etiópia. A renda por habitante na China era muito menor que a de países como Bolívia ou Nigéria. Mas a boa notícia para os pobres chineses é que, com a morte de Mao Tsé-Tung, em 1976, as reformas estavam prestes a começar.

Entre 1978 e 1984, a produção agrícola na China cresceu mais de 60%. Considerando o tamanho do país e a importância que a agricultura tinha na economia chinesa na época, esse aumento é enorme.

Aliás, a dimensão do salto é quase inacreditável quando se leva em conta que ele não foi causado por um acréscimo da área cultivada ou por uma mudança tecnológica que propiciou o acesso a melhores equipamentos ou insumos.

O enorme aumento da produtividade foi causado basicamente por uma grande mudança institucional que alterou os incentivos dos camponeses.

O que aconteceu é que alimento passou a ser mercadoria, produzido por quem visava o lucro.

Até 1978, o trabalho no campo na China era organizado em grupos. Cada grupo tinha sua meta de produção, que era entregue ao Estado. A renda da produção agrícola era dividida entre o grupo de acordo com quantos dias cada um trabalhava e por avaliações da capacidade de trabalho de cada um. Cerca de 5% da terra era alocada para lotes privados, mas havia severas restrições sobre as trocas individuais (um indivíduo não podia ir à cidade vender sua produção, por exemplo). Além disso, cada região buscava a autossuficiência na produção de grãos. A produtividade agrícola era muito baixa.

Nos anos seguintes, esse sistema seria paulatinamente descartado e substituído pelo “sistema de responsabilidade individual” (household responsability system).

O novo sistema transferia o foco do grupo para o indivíduo. As metas de produção foram drasticamente reduzidas. A produção extra pertenceria ao indivíduo e poderia ser negociada no mercado a preços livres. A maior parte das restrições às trocas foi descartada. A política de autossuficiência na produção de grãos foi abolida, abrindo espaço para que cada região se especializasse no que tinha melhores condições de produzir.

Sendo baixas as metas, cada indivíduo sabia que a cumpriria e que, consequentemente, teria a renda de todo o adicional que conseguisse produzir. Na margem, para quem passava da meta, a taxa do imposto no contrato implícito entre o Estado e os camponeses era 0%: uma saca a mais de arroz ficaria integralmente com os camponeses.

Para um dado nível de produção, esse é o imposto que leva à maior desigualdade possível e é justamente o oposto do ideal comunista.

Entretanto, ao alterar radicalmente os incentivos para cada indivíduo trabalhar e produzir, o novo sistema de responsabilidade aumentou drasticamente a safra de alimentos na China e deu início ao forte crescimento da economia chinesa nos anos que se seguiram.

A China aprendeu a lição e esse tipo de reforma foi, aos poucos, estendida aos outros setores da economia.

Parece, porém, que por aqui, muita gente ainda não aprendeu.

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– Referência: partes inteiras do texto foram copiadas do meu livro “A Riqueza da Nação no Século 21”.

– Agradecimento: obrigado ao Gabriel e à Beatriz Rey que trouxeram esse tweet à minha atenção.

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As Olimpíadas e a Economia desde 1896 http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/08/02/as-olimpiadas-e-a-economia-desde-1896/ http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/2016/08/02/as-olimpiadas-e-a-economia-desde-1896/#respond Tue, 02 Aug 2016 11:00:53 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15246248.jpeg http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br/?p=999 Na primeira Olimpíada da era moderna, na Grécia em 1896, a maratona foi vencida pelo grego Spyridon Louis com o tempo de quase 3 horas. Versa a lenda que Spyridon Louis parou para tomar um copo de vinho no meio da prova, mas seu neto nega essa versão: ele teria comido meia laranja e recebido de seu futuro sogro um copo de conhaque.

Os medalhistas olímpicos da maratona de 2016 terminarão a prova em pouco mais de 2 horas, espera-se. É grande a diferença no tempo para completar a maratona em 1896 e 2016, não porque nascemos melhores para correr hoje em dia, mas por conta do profissionalismo dos corredores de hoje, que contrasta com o amadorismo de 1896.

O profissionalismo de hoje, por sua vez, é possibilitado pelo grande avanço econômico dos últimos 120 anos. Hoje, somos muito mais ricos que há 120 anos. Assim, demandamos mais entretenimento e bens de consumo. Consequentemente, empresas têm interesse em patrocinar os grandes eventos esportivos e governos tributam a população para investir (direta ou indiretamente, por meio de incentivos fiscais) nos esportes olímpicos.

A consequência é que há hoje um grande número de pessoas que ganha a vida treinando para correr rapidamente — assim como há muita gente que ganha a vida jogando bola.

Isso não era possível em 1896.

Em 1896, os países mais ricos do mundo, a Suíça e a Inglaterra tinham renda por habitante estimada em 8900 e 7600 dólares (de hoje) por ano, respectivamente. Isso é parecido com a renda do Paraguai e da Guatemala de hoje.

O Brasil era um país com 17 milhões de habitantes e renda per capita estimada em 1260 dólares. São muito poucos os países hoje com renda por habitante tão baixa.

Hoje, a renda por habitante média do mundo é de cerca de 15 mil dólares anuais (parecida com a renda per capita brasileira).

Esse progresso se traduziu em melhores condições de vida em todo o mundo.

Em 1896, a expectativa de vida ao nascer nos países escandinavos era de cerca de 53 anos. Em todo o resto do mundo, estava abaixo de 50 anos. Era 47 anos na Inglaterra e nos Estados Unidos, mas 32 anos no Brasil e na China. E 26 anos na Coreia, no Irã e no Mali.

Hoje, Lesoto e Suazilândia são os únicos países com expectativa de vida ao nascer inferior a 53 anos. A expectativa de vida na Etiópia, em Gana e no Quênia é, respectivamente, 64, 66 e 67 anos.

Curiosamente, em 1896, a medalha de bronze na lista de renda por habitante era da Argentina. Só Inglaterra e Suíça tinham renda por habitante superior à da Argentina (na época, um país de pouco mais de 4 milhões de habitantes e renda per capita próxima a 7500 dólares anuais).

Alguns países progrediram bem mais que outros desde 1896. Mesmo assim, na Argentina, o fracasso econômico do período, a renda por habitante mais que dobrou nesse período. A principal mensagem dos dados é que hoje em dia, o mundo todo vive mais e é mais rico.

Referências:

– As informações sobre renda e expectativa de vida em 1896 eu tirei do gapminder.org (para quem não conhece, recomendo fortemente esse site).

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