Minha nota de despedida

Por Bernardo Guimarães

No dia 27/10/2014, a segunda-feira após Dilma Rousseff vencer o segundo turno da eleição presidencial, o índice da Bolsa de Valores caía bastante, puxado pela queda de 12% do valor da Petrobrás. Perguntado, o então Ministro Guido Mantega culpou as oscilações nas bolsas de valores pelo mundo. De fato, a bolsa americana caía naquele momento. Cerca de 0,15%.

Mentiras na política são comuns, mas essa era uma mentira estranha. Afinal, praticamente todas as pessoas que acompanhavam a bolsa de valores — e leriam a notícia — saberiam que o ministro estava mentindo. Qual o ponto de contar uma mentira dessa?

Naquela segunda-feira de outubro 2014, essa mentira, pouco importante, era a cereja no bolo do surrealismo que tomara conta do debate sobre política econômica no Brasil. Esse surrealismo era muito frustrante. Eu não consegui trabalhar.

Começava então o processo que me tirou da minha toca no mundo acadêmico para tentar me comunicar com o público geral.

Em 2007, eu havia saído da toca para escrever um livro sobre princípios de teoria econômica para o público geral (o Economia sem Truques, co-autorado com Carlos Eduardo Gonçalves). Eu não achava que voltaria a fazer algo desse tipo tão cedo.

Até aquela segunda-feira dia 27/10/2014.

No final de julho de 2015, saía publicado A Riqueza da Nação no Século XXI. Uma semana depois, a Folha publicaria uma resenha muito legal do livro. Eu estava pronto para voltar a me dedicar integralmente à minha vida acadêmica.

Só que não.

Em agosto, aceitava o convite da Folha para escrever esse blog. O blog está completando um ano e eu gostei muito de escrever aqui. Muito mesmo.

Fico muito agradecido ao Vinicius Mota e à Ana Estela de Sousa Pinto pelo convite e por toda a força que me deram durante esse ano. E a todo o pessoal da Folha.

Claro deve estar, sempre tive total liberdade para escrever o que quisesse (quem não acha que isso é claro deveria rever suas teorias conspiratórias (mas provavelmente não vai)).

Não esperava despertar tanto interesse discutindo o que significa ortodoxo em economia ou explicando teorias econômicas sobre a ausência de um imperador na Amazônia antiga.

Tentei sair do lugar comum falando de assuntos como a Lava Jato e o meio ambiente.

Claro que muitas pessoas não gostaram do que eu escrevi. Eu não estaria fazendo meu trabalho se não desagradasse alguém.

Mas a grande maioria dos comentários que recebi (em emails ou nas redes sociais) foram feitos com muita educação. Leitores foram muito carinhosos comigo. Me senti acolhido nesse mundo da comunicação de massa.

Só que escrever esse blog me toma bastante tempo, e eu ando com muito pouco tempo livre.

Por isso, às vezes, posts ou colunas não ficaram suficientemente bons. Esse sobre a escola sem partido é um exemplo. Eu publiquei um outro post no dia seguinte esclarecendo o ponto.

Vários posts me custaram horas de descanso preciosas. O da sustentabilidade da dívida pública eu escrevi num sábado entre as 4:30 e as 6:30 da manhã (sei disso pela troca de emails com um amigo sobre o assunto).

Há uns dois meses, avisei à Folha que sairia ao completar um ano.

Estou cansado. Quero voltar pra minha toca.

Essa nota de despedida fecha um ano de blog que me deu imensa satisfação e um processo que começou em outubro de 2014.

Ao pessoal da Folha, aos leitores e a quem compartilhou meus posts: muito obrigado pela oportunidade, pela atenção e pela força. Esta foi para mim uma experiência muito gratificante.