Com políticas públicas adequadas, o Brasil seria um país muito mais próspero. Bons governos nos países mais pobres teriam reduzido bastante a pobreza e o subdesenvolvimento.
Por que frequentemente adotamos políticas públicas ruins?
Pode ser culpa da ignorância. Eleitores apoiam e exigem políticas públicas que são de fato ruins para o país como um todo. Medidas adotadas pelos governos têm resultados negativos inesperados.
Alternativamente, pode ser culpa da maldade. Interesses escusos direcionam as políticas públicas para beneficiar uns poucos à custa da maioria.
Tomando um exemplo concreto, considere a atuação do BNDES no governo de Dilma Rousseff.
A meu ver, essa foi uma política desastrosa. Gastar mais do que o custo do Bolsa Família em subsídios para realocar crédito é um péssimo uso dos recursos públicos. Por que o BNDES agiu dessa forma?
Se a culpa é da ignorância, o motivo é que muita gente acha (ou achava) importante o governo fornecer crédito a taxas de juros inferiores às do mercado para fomentar o desenvolvimento da indústria nacional.
Se a culpa é da maldade, os empréstimos subsidiados do BNDES existiram para encher os bolsos de alguns, todos sabiam que essa intervenção não fazia sentido.
Suponha, porém, que eu esteja enganado e a atuação do BNDES no governo de Dilma Rousseff tenha estimulado o desenvolvimento econômico do país. Nesse caso, por que há oposição à atuação do BNDES?
Novamente, se a culpa é da ignorância, o motivo é que pessoas como eu não entendem alguma coisa importante.
Se a culpa é da maldade, quem se opõe ao BNDES está defendendo o capital internacional, os rentistas, a subserviência nacional aos interesses do grande capital.
A meu ver, a ignorância é a maior culpada.
Se o BNDES fez maravilhas pelo Brasil e minhas críticas estão incorretas, é porque sou burro, não porque sou mau —e isso se aplicaria a muitos outros economistas.
Se eu estou certo e a atuação do BNDES foi um desastre, cabe então perguntar por que não havia mais oposição a esses empréstimos subsidiados.
A maldade não é inocente. Muita gente ganhou dinheiro com os juros altamente subsidiados do BNDES e financiou campanhas.
Só que empresário querendo empréstimos a juros baratos não é privilégio do Brasil. A diferença é que aqui há um pensamento (de esquerda) que justifica esses subsídios.
Muitos professores de economia espalhados pelo Brasil acham (ou achavam) que esse tipo de política pública beneficiaria o país. Era impopular na campanha criticar a atuação do BNDES. Muitas premissas na qual a atuação do BNDES se baseava ainda são aceitas pela maioria.
Economistas que defendiam a política econômica do governo até pouco tempo atrás ou insistem no erro ou já vieram com novas soluções baseadas nas mesmas velhas premissas. Até onde posso julgar, esses economistas de fato acreditam no que falam.
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Foi por achar que o debate sobre economia está mal informado que eu resolvi contribuir para a discussão no blog da Folha e na coluna. Foi um ano, espero que tenha sido útil. Vou com o blog até o fim do mês, esta é a última coluna no jornal impresso. Muito obrigado pela atenção.