Na primeira Olimpíada da era moderna, na Grécia em 1896, a maratona foi vencida pelo grego Spyridon Louis com o tempo de quase 3 horas. Versa a lenda que Spyridon Louis parou para tomar um copo de vinho no meio da prova, mas seu neto nega essa versão: ele teria comido meia laranja e recebido de seu futuro sogro um copo de conhaque.
Os medalhistas olímpicos da maratona de 2016 terminarão a prova em pouco mais de 2 horas, espera-se. É grande a diferença no tempo para completar a maratona em 1896 e 2016, não porque nascemos melhores para correr hoje em dia, mas por conta do profissionalismo dos corredores de hoje, que contrasta com o amadorismo de 1896.
O profissionalismo de hoje, por sua vez, é possibilitado pelo grande avanço econômico dos últimos 120 anos. Hoje, somos muito mais ricos que há 120 anos. Assim, demandamos mais entretenimento e bens de consumo. Consequentemente, empresas têm interesse em patrocinar os grandes eventos esportivos e governos tributam a população para investir (direta ou indiretamente, por meio de incentivos fiscais) nos esportes olímpicos.
A consequência é que há hoje um grande número de pessoas que ganha a vida treinando para correr rapidamente — assim como há muita gente que ganha a vida jogando bola.
Isso não era possível em 1896.
Em 1896, os países mais ricos do mundo, a Suíça e a Inglaterra tinham renda por habitante estimada em 8900 e 7600 dólares (de hoje) por ano, respectivamente. Isso é parecido com a renda do Paraguai e da Guatemala de hoje.
O Brasil era um país com 17 milhões de habitantes e renda per capita estimada em 1260 dólares. São muito poucos os países hoje com renda por habitante tão baixa.
Hoje, a renda por habitante média do mundo é de cerca de 15 mil dólares anuais (parecida com a renda per capita brasileira).
Esse progresso se traduziu em melhores condições de vida em todo o mundo.
Em 1896, a expectativa de vida ao nascer nos países escandinavos era de cerca de 53 anos. Em todo o resto do mundo, estava abaixo de 50 anos. Era 47 anos na Inglaterra e nos Estados Unidos, mas 32 anos no Brasil e na China. E 26 anos na Coreia, no Irã e no Mali.
Hoje, Lesoto e Suazilândia são os únicos países com expectativa de vida ao nascer inferior a 53 anos. A expectativa de vida na Etiópia, em Gana e no Quênia é, respectivamente, 64, 66 e 67 anos.
Curiosamente, em 1896, a medalha de bronze na lista de renda por habitante era da Argentina. Só Inglaterra e Suíça tinham renda por habitante superior à da Argentina (na época, um país de pouco mais de 4 milhões de habitantes e renda per capita próxima a 7500 dólares anuais).
Alguns países progrediram bem mais que outros desde 1896. Mesmo assim, na Argentina, o fracasso econômico do período, a renda por habitante mais que dobrou nesse período. A principal mensagem dos dados é que hoje em dia, o mundo todo vive mais e é mais rico.
Referências:
– As informações sobre renda e expectativa de vida em 1896 eu tirei do gapminder.org (para quem não conhece, recomendo fortemente esse site).