A crise nas universidades

Por Folha

As universidades públicas estão em crise. Um dos aspectos que precisam ser revistos é a carreira dos professores.

O trabalho de um professor universitário vai muito além das aulas. A pesquisa acadêmica é uma parte fundamental do que se espera dos professores em regime de dedicação integral.

A pesquisa acadêmica de hoje gera conhecimento para os livros-texto de amanhã e ajuda o trabalho de profissionais das mais diversas áreas (médicos, formuladores de políticas públicas, profissionais que desenvolvem produtos).

As universidades pelo mundo são avaliadas basicamente de acordo com a pesquisa de seu corpo docente. Universidades como Yale, Princeton, MIT, Harvard e Stanford são famosas no mundo todo por causa da excelência em pesquisa.

Nessas universidades (e em outras mais modestas), quem tem mais sucesso em suas publicações é recompensado com uma boa carreira e um bom salário. Mas muitos acabam tendo que fazer outra coisa da vida.

Assim, há muita liberdade de horário, mas muitos trabalham com afinco nos fins de semana. É uma carreira muito competitiva (mas há cooperação também).

E no Brasil?

Nas universidades públicas brasileiras, muita gente se dedica à pesquisa acadêmica. Há bastante gente produzindo pesquisa de qualidade, várias com impacto significativo na comunidade científica internacional.

Porém, na outra ponta do espectro, há quem nunca tenha publicado um artigo científico desde que acabou o doutorado. E há, claro, casos intermediários.

Em economia (e em áreas relacionadas), a quantidade de professores que não fazem pesquisa é muito grande.

Muitos professores de economia das mais renomadas universidades públicas nem sequer seriam capazes de entender um artigo científico publicado no que seriam as suas áreas de especialização.

Só que os salários não refletem como deveriam as diferenças entre esses professores.

O mérito acadêmico não é suficientemente premiado e não é possível demitir (ou pagar menos para) quem não tem uma vida acadêmica.

Assim, há professores que produzem bastante e ganham menos do que deveriam ganhar. Mas há também os que ganham demais pelo que fazem.

São comuns as discussões sobre a remuneração dos professores nas universidades públicas. Fala-se com frequência dos baixos salários na profissão. Greves são frequentes.

A discussão não deveria priorizar o salário médio dos professores. A universidade pública já é muito cara para quem paga impostos.

Para melhorar a qualidade sem tornar mais cara a universidade, é preciso mudar a regra do jogo.

Muitos professores, aliás, nem dão suas aulas como deveriam.

Era esse o caso de um professor da Faculdade de Economia da UFMG que dava o curso sobre “O Capital”, de Karl Marx. Ele normalmente chegava atrasado ou faltava e, quando chegava na hora, saía mais cedo. Contam seus ex-alunos que um dia ele explicou à turma:

“Não se preocupem com os meus atrasos: eu tenho uma capacidade de síntese acima do normal”.

Isso foi nos anos 1990. Claro que o descaso com as aulas jamais impediria esse professor de continuar com seu cargo na UFMG, mas ele acabou fazendo carreira na política. Hoje, Fernando Pimentel é o governador de Minas Gerais.