Democracia em modo aleatório

Por Folha

Michel Temer foi eleito vice-presidente porque Dilma teve mais votos na eleição presidencial. Se 2 milhões de votos dela tivessem sido dados a Aécio, Aloysio Nunes seria o vice-presidente. Quem votou em Dilma pode não gostar de Temer, mas era fácil entender a regra.

Agora, compare com a eleição para deputados.

Quem votou em Roberto Freire ou em Soninha Francine (ambos do PPS) leu no jornal do dia seguinte que seus candidatos não haviam sido eleitos. Mas os votos deles afetaram a eleição.

Se todos os votos deles fossem para um adversário, provavelmente não teria sido eleito o jovem Alexandre Leite (DEM), filho do político Milton Leite.

Quem teria sido eleito em seu lugar? Se todos aqueles votos fossem ao corintiano Andrés Sanchez (PT), é provável que Netinho de Paula (hoje no PDT) conseguisse um lugar na Câmara dos Deputados.

Netinho, aliás, teria sido eleito com os votos de Tiririca (PR) se o PCdoB em 2014 estivesse coligado com o PR como em 2010.

Como não estava, a maioria dos votos obtidos por Tiririca em 2014 foi para eleger gente como o Capitão Augusto (PR).

Se a coligação na eleição para deputado federal fosse igual à da eleição para deputado estadual naquele mesmo ano, os jornais do dia 27/10 teriam Roberto Freire (PPS) eleito. Por causa dos votos dados a Celso Russomano (PRB).

No final das contas, Roberto Freire (PPS) levou uma vaga na câmara porque muitos deputados eleitos pelo PSDB viraram secretários do governo de São Paulo.

Faz sentido isso?

No sistema atual, é muito difícil entender quem se beneficiará do nosso voto.

É muito difícil escolher um candidato dentre as centenas de opções disponíveis. É muito custoso saber o que fazem todos os 70 deputados eleitos por São Paulo.

Não surpreende, portanto, que a maioria não se lembre de quem recebeu seu voto na última eleição, não acompanhe o trabalho dos deputados e não saiba em quem votar da próxima vez.

Enquanto o sistema eleitoral for este que temos hoje, isso vai continuar acontecendo.

Precisamos, então, tornar mais fácil a vida do eleitor.

Uma solução para essa questão é o voto distrital.

O país seria dividido em regiões, cada uma elegeria um deputado. Assim, haveria um candidato de cada partido, no máximo. Como na eleição para governador, seria muito mais fácil conhecê-los.

Hoje, um candidato rejeitado pela maioria dos eleitores pode se eleger. Afinal, mais de 80% dos deputados eleitos recebem menos de 1% dos votos.

Um candidato maluco que agrada a 5% do eleitorado se elege e carrega outros.

No sistema distrital, cada grupo de eleitores estaria de olho em apenas um deputado, então aquele que desagrada a muitos não seria reeleito. Um deputado precisaria fazer campanha apenas em uma região menor. As campanhas ficariam mais baratas.

Seria muito mais fácil para um partido conseguir uma maioria no Congresso. Os partidos maiores teriam, em geral, bancadas maiores. Seria mais fácil governar.

Será que funcionaria? Poderíamos experimentar o voto distrital em uma eleição (por exemplo, para vereador).

Claro está, precisamos repensar o nosso sistema político. A solução envolve reformar o sistema eleitoral para tirar a nossa democracia do modo aleatório.