A nova equipe econômica

Por Bernardo Guimarães

A equipe do Ministério da Fazenda me agrada bastante. O primeiro objetivo deverá ser o ajuste fiscal, para deixar a macroeconomia em ordem. Mas há gente na equipe pensando nas reformas microeconômicas para a economia funcionar melhor e o Brasil crescer com justiça social. Não devemos esperar heterodoxias. O Banco Central deve conduzir a política monetária com o objetivo de manter a inflação na meta, não deve ter problemas com credibilidade.

A equipe do Ministério do Planejamento, porém, conta com pessoas identificadas com a tal “heterodoxia”, o tipo de ideia econômica que reinou no Brasil nos últimos anos e nos trouxe até aqui.

O fato dessa descrição funcionar para o governo de Lula de 2003 e para o governo de Michel Temer em 2016, enquanto petistas e anti-petistas se engalfinham, mostra a maluquice que é o debate sobre política econômica no Brasil.

Há, de fato, várias diferenças importantes. Por exemplo, em 2003, o Ministério do Planejamento era de fato recheado de “heterodoxos”, enquanto hoje, até onde eu vejo, tem alguns; a visão para o BNDES de Maria Silvia Marques deve ser diferente da de Carlos Lessa; Arno Augustin, o rei das pedaladas, estava no Ministério da Fazenda em 2003 (mas como secretário adjunto).

Além disso, a equipe de 2003 pegou a casa em ordem (por exemplo, o Brasil tinha um superávit primário superior a 3,5% do PIB). Boa parte da insegurança era gerada pela própria mudança de governo. A equipe teve condições e foi bem sucedida tanto na macroeconomia quanto nas reformas microeconômicas.

Hoje, a situação política é muito delicada e estamos em meio a uma grave crise econômica. Quem estará no comando da economia brasileira?

No Ministério do Planejamento, cargos importantes vão para “heterodoxos”. O secretário executivo (considerado “o número 2” do ministério) será Dyogo de Oliveira, que era o secretário executivo de Nelson Barbosa tanto na Fazenda quanto no Planejamento e está no governo Dilma desde seu primeiro mandato. Manoel Pires, secretário de política econômica de Nelson Barbosa, assume a presidência do IPEA.

Não tenho ideia do que significa essa ligação entre Romero Jucá e os economistas “heterodoxos”.

Mas vamos às boas notícias.

Ilan Goldfajn fez o doutorado no MIT e teve uma breve (e bem sucedida) carreira acadêmica antes de ir para a diretoria do Banco Central com Arminio Fraga. Como economista, é um ótimo nome para o Banco Central.

Mansueto Almeida é o cara das contas do governo e será um dos principais responsáveis pelas medidas para o ajuste fiscal. Não vai faltar conhecimento do assunto. Mansueto escrevia um blog que era leitura obrigatória para muita gente nas universidades, no governo e no setor privado. Já falava das pedaladas muito antes delas terem esses nomes (por exemplo, aqui). Corre por aí que ele era o blogueiro que mais incomodava o ex-ministro Guido Mantega.

De maneira similar, Marcelo Caetano está estudando a previdência social há uns 10 anos. Conhece os problemas a fundo e têm propostas em mente. Você pode ler mais sobre as opiniões dele nessa entrevista recente à Folha.

Marcos Mendes, como muitas pessoas, acha que o Estado brasileiro é injusto, ineficiente e caro, mas tem boas ideias para começar a reformá-lo. Considera crucial mudar as regras do jogo na economia brasileira para que haja menos incentivos para se procurar uma “boquinha” e mais incentivos para produzir e inovar, e tem propostas para levar o país nessa direção (veja este artigo que ele escreveu). Tendo atuado como consultor legislativo por anos, conhece bons projetos de leis que andam engavetados.

A equipe é muito competente, mas a tarefa é bastante complicada e a turbulência política adiciona uma grande dose de incertezas. Restaurar algum equilíbrio nas contas públicas e dissipar o pessimismo reinante hoje já excederá muitas expectativas.

Mas não custa pensar no cenário otimista. Há gente muito boa no time e nós aprendemos muito nos últimos anos. Quem sabe veremos de volta ao governo a agenda que o Brasil largou em 2005 quando um certo ex-professor de Stanford deixou a Secretaria de Política Econômica (do Ministério da Fazenda) — e quem sabe, assim, voltaremos ao caminho do desenvolvimento do país e da melhoria no nível de vida da população.