De Etiópia a Brasil em 36 anos

Por Folha

Hoje é até difícil acreditar: em 1980, entre os 140 países na base de dados de renda por habitante do FMI (Fundo Monetário Internacional), a China era o segundo país mais pobre. Começando pelo mais pobre, a lista ia assim: Moçambique, China, Etiópia, Burkina Fasso, Burundi, Uganda, Maláui…

Alguns países deviam ser ainda mais pobres, mas não tinham dados de renda em 1980 (o Camboja é um exemplo). De qualquer maneira, a China era um país paupérrimo.

Em 1980, seria muito estranho pensar que um país tão miserável como China, Etiópia ou Burkina Fasso chegaria ao nível de renda do Brasil em poucas décadas.

O gráfico nesta página mostra a renda por habitante de Brasil e China desde 1980, ajustando os valores de acordo com o custo de vida em cada país.

Se as projeções estiverem corretas, 2016 será o ano em que a renda por habitante da China ultrapassará a do Brasil.

O retrocesso recente brasileiro apressou esse processo, mas é o crescimento da China nas últimas décadas a parte mais impressionante dessa história.

PIB PER CAPITA - Ajustado pela paridade do poder de compra, em US$

Até o fim dos anos 1970, a China era um país estruturado nos moldes comunistas do maoismo. O resultado dessa experiência não poderia ter sido mais desastroso.

Por volta de 1980, a China começou seu processo de reformas que transformaria o país em uma economia de mercado –com suas idiossincrasias.

As reformas começaram na agricultura. Aos poucos, um sistema de incentivos privados foi substituindo a coletivização da produção. A produtividade agrícola disparou.

Nos anos 1980, a renda por habitante na China crescia cerca de 12% ao ano. Em uma década, a renda média de um chinês saltou de cerca de US$ 300 para aproximadamente US$ 1.000 anuais.

Apesar desse alto ritmo de crescimento, em 1990, a China continuava sendo um país muito pobre. Em média, a renda de um chinês era cerca de US$ 80 mensais.

Por isso, o crescimento na China há duas ou três décadas não impressiona tanto. Partindo de um nível de produção e renda tão baixo, melhorias simples no sistema de incentivos podem resultar em grande progresso.

Hoje, porém, a China é um país de renda média, assim como o Brasil, e sua economia continua crescendo a mais de 6% ao ano. Isso me impressiona.

Por que a China tem progredido tão rapidamente? Estamos longe de um consenso sobre essa questão.

A China tem seus problemas. O regime ditatorial e a corrupção são alguns dos mais citados.

Por esses e outros problemas, alguns economistas acreditam que a China não deve continuar prosperando por muito tempo.

Meu palpite, porém, é que a China deve continuar crescendo a um ritmo cada vez mais lento.

De qualquer maneira, o sucesso econômico chinês salta aos olhos e deve ter lições importantes para países como o Brasil.