A Folha desta quinta (18) noticiou mais um rebaixamento na classificação do Brasil por uma agência responsável por avaliar risco de dívida soberana, a Standard & Poor’s. Isso importa?
Agências de classificação de risco buscam estimar as chances de calote nas dívidas de países e empresas. Contudo, investidores e participantes do mercado financeiro também buscam estimar as chances de calote para decidir se vale a pena ou não comprar títulos brasileiros.
O que a classificação das agências de risco agrega? Elas são muito melhores em suas avaliações que o mercado?
Em geral, não. Em uma analogia com um paciente que está doente, a classificação da agência de risco é como uma opinião de mais um médico. Acrescenta alguma informação, mas em geral não será muito diferente das outras classificações.
Ainda assim, agências de risco afetam os movimentos nos mercados financeiros. Por quê?
Um motivo é uma restrição institucional: alguns fundos de investimento só podem ter em suas carteiras títulos emitidos por quem tem grau de investimento (ou seja, uma classificação suficientemente boa).
Assim, quando o país vai chegando próximo de perder o grau de investimento, esses fundos já começam a vender os títulos da dívida emitida pelo país.
Da mesma maneira, quando o país vai chegando próximo de recuperar o grau de investimento, outros investidores já começam a comprar a dívida do país, antecipando o aumento na demanda por esses títulos.
Quanto mais longe do grau de investimento, menor essa demanda por títulos.
Outro motivo, mais interessante, é que a classificação de risco recebe a atenção de todos os participantes do mercado — e todos eles sabem disso. Isso importa.
Quem compra um título da dívida brasileira se preocupa com o preço que conseguiria nesse título se quisesse revendê-lo no ano seguinte.
Então, para um investidor, não importa apenas a sua própria avaliação sobre as chances de calote: importa também a avaliação dos outros, pois isso determinará o preço do título no ano seguinte.
Como um investidor vai saber sobre a opinião geral do mercado sobre as chances de calote?
A classificação da agência de risco pode ser uma boa fonte de informação sobre isso. Na analogia com o paciente doente, é como a opinião do médico que escreve na Folha. Muita gente vai ler. Isso dá uma boa ideia sobre a opinião geral do mercado.
A diferença entre o paciente e o investidor é que, para o paciente, a opinião dos outros não importa. Ele só quer saber qual o melhor tratamento.
O investidor, por outro lado, se importa com as percepções dos outros participantes porque delas depende o preço do título no futuro.
Enquanto o paciente muito bem informado pode ignorar o tratamento sugerido pelo médico que escreve no jornal, o investidor muito bem informado precisa se atentar à classificação da agência.
Em suma, a classificação das agências de risco é apenas um resumo, não muito preciso, da opinião geral sobre o risco da dívida de um país. Só que, no mercado financeiro, esse resumo é muito importante.