As razões para otimismo

Por Bernardo Guimarães

Há um ano, a maior parte dos analistas previa que o PIB brasileiro de 2015 seria ligeiramente maior que o de 2014. Esperava-se um ano ruim para a economia brasileira, mas não um ano horrível.

Uma queda no produto entre 3,5% e 4% não era prevista por ninguém.

Parte da grande discrepância entre as previsões e a realidade se deve à crise política. Com Levy na Fazenda, o governo indicava uma mudança de rumos. Esperava-se que um ajuste substancial seria aprovado e o país recuperaria um pouco da credibilidade perdida.

Hoje, a maior parte dos analistas prevê uma queda no PIB em 2016 por volta de 2,5% ou 3%. Teremos então outro ano terrível para a economia brasileira?

A resposta é que não sabemos. Essas estimativas são o melhor que temos para balizar nossas expectativas, mas são muito pouco precisas.

As previsões de modelos macroeconômicos, em geral, não são muito acuradas. Mas em momentos como o que vivemos, a margem de erro das previsões é ainda mais alta.

Sabemos que o início de 2016 será muito ruim para a economia. Sabemos também que o ano de 2016 não será bom. A meu ver, isso é só o que sabemos.

O ano de 2016 pode ser apenas ruim, sem uma queda substancial no PIB e um final de ano apontando para a retomada do crescimento em 2017.

O ano de 2016 pode ser horrível, com o agravamento da crise se refletindo em mais desemprego, grande queda no PIB e muito menos comida no prato dos mais pobres.

Nós não sabemos.

As expectativas dos diferentes analistas são muito parecidas. Isso pode passar a falsa impressão de precisão nas estimativas. Afinal, se todo mundo espera que o PIB caia 2,5% ou 3%, deve ser muito improvável que alguma coisa diferente aconteça. Isso não é verdade, e os (bons) analistas sabem disso.

As estimativas são semelhantes porque vêm de fontes parecidas: os modelos quantitativos usados são praticamente os mesmos; as considerações qualitativas sobre a economia e a política são conhecidas por todos.

Em parte (e apenas em parte), a incerteza vem da política. Se o governo conseguir desatar o nó político e aprovar o ajuste prometido, a crise de confiança pode, aos poucos, se dissipar e não tardará para a economia reagir.

Está bem, mas isso é 2016. O que virá depois? Como será a próxima década?

Nosso futuro depende das políticas que adotaremos. A meu ver, a razão para otimismo é a mudança gradual observada no debate sobre política econômica no país.

Na campanha para a eleição presidencial de 2014, a defesa do ajuste fiscal e as críticas à queda nos juros que permitiu o aumento da inflação não foram tão longe quanto poderiam. Muito menos os ataques às operações do BNDES e à política industrial.

Sim, a mentira do PT ultrapassou os níveis do ridículo, mas a oposição foi tímida em suas críticas por medo de perder popularidade.

Um ano depois, esses não são mais assuntos proibidos. A crise traz dúvidas às cabeças antes habitadas por certezas e abre espaços para uma discussão mais séria sobre política econômica.

Eu sou daqueles que defendem o liberalismo econômico aliado a políticas de distribuição de renda e de geração de oportunidades aos mais pobres. Há mais e mais gente defendendo essa posição, principalmente dentre os mais jovens.

Isso é o que me deixa otimista com o futuro.