Metrô de Londres, terça-feira passada, umas 2:30pm. O rapaz à minha frente pergunta:
– Aquela mala é de alguém?
Preocupação normal em um mundo onde malas sem dono podem conter uma bomba. As 7 pessoas que escutam a pergunta se entreolham. A mala não é de nenhuma delas.
O rapaz sai perguntando. A dona da mala é logo encontrada, a uns 4 ou 5 metros dali, distraída, lendo seu jornal.
No Brasil, não temos nem a preocupação com as bombas nem a tranquilidade para deixar as malas longe da nossa atenção sem temer um furto.
Dados de furtos não são muito precisos (entre outras coisas, porque muita gente não registra a ocorrência). Dados de homicídios são bem mais confiáveis e são um bom termômetro da violência nos diversos países do mundo.
A medida usual é o número de homicídios por 100 mil habitantes por ano. Esse número é cerca de 1 na França e na Inglaterra, um pouco menos que 4 nos Estados Unidos e cerca de 25 no Brasil.
OK, mas como fica o Brasil em comparação com os demais países do mundo? É esperado que países mais desenvolvidos sejam mais seguros, e de fato são mesmo. Mas mesmo comparando com o mundo como um todo, há violência demais no Brasil.
O gráfico acima mostra a taxa de homicídios no eixo vertical e a renda per capita no eixo horizontal (países com renda superior a 60 mil dólares por ano aparecem com renda de 60 mil; Honduras, com taxa de homicídio igual a 90, aparece com 60 homicídios por 100 mil habitantes).
Cada ponto é um país. O Brasil é a bolinha verde no gráfico. O mundo como um todo é a bolinha rosa.
A renda do Brasil é parecida com a renda média mundial (o dado é do ano passado, esse ano ficará mais parecida ainda). A taxa de homicídios no Brasil é cerca de 4 vezes a taxa mundial.
De fato, há muito pouca violência dentre os países ricos. Dentre os países pobres, há vários com muita violência, mas na grande maioria dos casos, a taxa de homicídios é muito menor que no Brasil.
Em um dia médio, há mais assassinatos no Brasil do que houve em Paris no dia 13 de novembro. Isso não tira de ninguém o direito de se emocionar com as vítimas da tragédia na França — meu propósito aqui não é promover um campeonato de indignação e de motivos para luto.
O ponto aqui é que nossas políticas públicas deveriam estar muito preocupadas com essa taxa de homicídios e com a insegurança no Brasil. Podemos fazer relativamente pouco para reduzir o terrorismo no mundo. Por outro lado, países com nosso nível de desenvolvimento conseguem viver com muito menos violência.
A insegurança atinge a população como um todo, mas afeta principalmente os mais pobres. Isso fica claro nos dados de homicídios, nos preços de seguros para carros e nas preocupações de pais e mães de adolescentes que habitam as periferias das grandes cidades.
A insegurança afeta negativamente a economia também, de diversas formas (por exemplo, o alto índice de roubos de carga de caminhões torna os fretes muito mais caros).
A violência no Brasil é assim tão grande por conta da desigualdade? Os dados dizem que não. Países mais desiguais estão de fato associados com mais violência, mas essa associação está longe de explicar os altos índices de homicídios no Brasil.
Em todos os países mais desenvolvidos, há muito menos homicídios que no Brasil. Contudo, não faz sentido esperar chegarmos até lá para que a violência se reduza (e não só porque o crime atrapalha o desenvolvimento).
Assim, a meu ver, a segurança deveria ser uma prioridade dos nossos governos e não deveria ser uma bandeira de alguns grupos políticos apenas.
Deveríamos estar discutindo os meios para chegar em menos violência. Desarmamento? Mais policiamento ostensivo? Descriminalização do comércio de drogas? Punições mais duras aos criminosos?
Colocar a segurança como prioridade não significa abraçar nenhuma dessas soluções. Mas significa aceitar que não basta agir apenas sobre a desigualdade e a pobreza e esperar os resultados, é importante agir diretamente sobre a violência.