Nouriel Roubini, chamado por vezes de guru da economia, me disse uma vez que nunca havia escolhido uma ação para comprar. Investimentos em Bolsa, só em fundos de ações. “Escolher ação é tarefa para quem trabalha com isso em período integral”, ele dizia.
Não seria razoável esperar que um guru de economia soubesse prever os rumos dos preços das ações?
Prever comportamento de preços deve ser difícil, claro. Assim como parece quase impossível determinar a composição química das estrelas, ou entender a estrutura do átomo, mas pesquisadores das ciências naturais têm respostas precisas a esse tipo de pergunta.
Por que um professor de economia não sabe algo muito mais mundano e palpável como o que vai acontecer com o preço das ações da Vale do Rio Doce?
A grande dificuldade nesse tipo de previsão vem do fato de a informação acessível a todos estar incorporada nos preços. Se todos sabemos que uma certa empresa irá vender muito mais no ano que vem, os detentores de suas ações e os potenciais compradores considerarão essa informação em suas decisões de compra ou venda.
Assim, não é possível que todo o mundo espere aumento ou redução significativa no preço de uma ação ou na taxa de câmbio. Afinal, se todos acham que o dólar vai subir, quem tem dólar não tem motivos para vender ao preço vigente, e os compradores melhoram suas ofertas de compra. Assim, antes de sair qualquer negócio, o preço já subiu.
Nem todos os participantes do mercado financeiro estão bem informados. Mas, como há bastante dinheiro em jogo, os bancos e os grandes fundos buscam contratar profissionais muito qualificados.
Assim, há um grande número de excelentes profissionais acompanhando o desempenho das empresas, tentando entender se vale a pena ou não comprar uma ação. As análises dessas pessoas ajudam bancos e fundos de investimento a escolher que ativos comprar, quanto investir em cada empresa etc.
Quando essas pessoas acham que é momento de comprar, eu não gostaria de vender. Afinal, eu não leio os balanços, não acompanho as empresas, não estudo o assunto. Portanto, estou menos bem informado que as tesourarias de bancos e grandes fundos de investimento. Da mesma maneira, quando essas pessoas bem informadas querem vender, não quero ser o pato que vai comprar.
É por isso que ganhar dinheiro apostando no mercado financeiro é muito mais difícil que parece.
O problema, para mim, é que, como há bastante gente bem informada no mercado financeiro, se eu comprar uma ação, há uma boa chance de que o vendedor seja a parte mais bem informada e eu seja o pato.
O pato ajuda o agente bem informado a ganhar dinheiro. É o agente menos bem informado que ten- de a comprar e vender na hora errada. Nem sempre isso acontece, a sorte é componente importante para explicar o resultado de uma operação, mas é assim na maior parte das vezes.
Para ganhar especulando no mercado financeiro, não basta estar bem informado: é preciso estar mais bem informado que a outra parte na operação.
Para cada um que comprou na hora certa, há alguém que vendeu na hora errada. Quando pensar em comprar ou vender uma ação, lembre-se de se perguntar: quem será o pato dessa operação?