Como a Folha noticiou há poucos meses, o Brasil é um dos países que menos comercializa com o exterior. O Brasil de fato é um país relativamente fechado ao comércio internacional, mas vale a pena olhar os dados com mais cuidado.
O gráfico abaixo mostra as importações de cada país como proporção do PIB no eixo vertical e a população no eixo horizontal (eu explico o que são os números no eixo horizontal no final do post). Cada ponto é um país. O Brasil é o quadradinho verde, um país muito populoso com uma relação importações/PIB muito baixa.
Note que países pequenos, à esquerda no gráfico, trocam muito com o exterior. Por outro lado, países maiores, à direita no gráfico, comercializam muito menos com os outros países.
Essa relação faz sentido: para uma empresa, as trocas são absolutamente essenciais: donos de restaurantes não produzem as mesas que usam, médicas não fabricam seus estetoscópios, etc.
Um município se especializa na produção de uma gama maior de bens e serviços, mas trocas com outras cidades continuam sendo fundamentais. Muito poucos dos carros produzidos em uma fábrica ficam em sua cidade: a grande maioria é “exportada” para outros municípios.
Um país pequeno vai, em geral, se especializar em uma gama pequena de coisas, e vai trocar muito com o exterior. Por outro lado, um país grande propicia muitas possibilidades de trocas aos seus habitantes, então o comércio com outros países é relativamente menos importante.
Isso não significa que o comércio não traga benefícios para países grandes. Traz, mas em países maiores, de modo geral, é produzida uma maior variedade de bens e boa parte do comércio se dá dentro do próprio país.
O Brasil é um país grande, tem uma população de 205 milhões de habitantes. Assim, espera-se que o Brasil comercialize menos com o exterior que países menores.
Contudo, mesmo para países grandes, o Brasil comercializa pouco com o exterior. No gráfico, o Brasil aparece ao lado da Nigéria (177 milhões de habitantes), com importações/PIB em torno de 14% (dados do ano passado, esse valor será menor esse ano). Outros países grandes trocam muito mais com o exterior.
As importações da Indonésia (pouco mais de 250 milhões de habitantes) são 24,5% do PIB. As do México (125 milhões de habitantes) são 33,7% do PIB.
Em China e Índia, os maiores países do mundo, com cerca de 1 bilhão e 300 milhões de habitantes cada um, as importações são 19% e 26% do PIB, respectivamente.
O ponto é que não é estranho que o Brasil importe e exporte menos que a Bélgica (importações/PIB de 82%, 11 milhões de pessoas) ou mesmo que a Alemanha (importações/PIB de 39%, mais de 80 milhões de pessoas). Dado o tamanho do país, é natural que o comércio exterior seja menos importante para nós.
Contudo, considerando o tamanho e as características do país, esperaria-se que o Brasil importasse e exportasse pelo menos 20% do PIB. Em 2014, as exportações representaram apenas 11,5% do PIB (as importações foram cerca de 14% do PIB).
Portanto, nosso volume de comércio internacional não chega a dois terços do que se esperaria considerando o tamanho do país. O Brasil é de fato um país relativamente fechado.
Referência:
– Peguei os dados no site de dados do Banco Mundial.
Detalhes:
– O eixo horizontal do gráfico (população) está em escala logarítmica. Isso significa que 7 no gráfico indica 10 milhões (1 seguindo por 7 zeros), 8 indica 100 milhões (1 seguido por 8 zeros), etc.
– Muitos países importam e exportam mais que 100% do PIB (em Cingapura, importações são 163% do PIB). Os pontos na linha de 105% no gráfico indicam países com importações/PIB superiores a esse valor.
– Como é possível exportar e importar mais que o PIB? Se alguém no país compra $30 em matéria prima, produz algo e exporta por $50 e os $20 de lucro são usados para importar bens de consumo, isso significa: $50 de exportações; $ 50 de importações ($30 de matéria prima e $20 de bens de consumo) e $20 de PIB (a diferença entre os $50 que se recebeu e os $30 que se pagou de matéria prima).